Na Andaluzia (eleições regionais) e em França (eleições
departamentais) joga-se hoje um primeiro passo para cenários de governação e de
gestão eleitoral dos quais provavelmente hoje não percebemos ainda todos os
contornos futuros possíveis.
Na Andaluzia, Susana Diaz que, ou muito me engano, será a
prazo a próxima líder do PSOE, disputa com o PP e a Izquierda Unida a liderança
do primeiro combate eleitoral com os partidos não tradicionais e anti-sistema
do PODEMOS e do CIUDADANOS. Dos resultados deste primeiro embate, para o qual não
se antecipa uma maioria absoluta do PSOE, poderão resultar diferentes dinâmicas
de acomodação e resposta ao fenómeno emergente das forças políticas
anti-sistema, processo iniciado em Itália com o movimento de Grillo. Não se
sabe se predominará uma perspetiva defensiva e cúmplice dos partidos do sistema
(e que sistema na Andaluzia) unindo-se para combater os outsiders ou se, pelo contrário, haverá interações futuras entre
partidos do sistema e forças políticas emergentes, ou ainda se o processo vai
mexer decisivamente com os partidos do sistema conduzindo-os a uma efetiva
revolução de processos. O ensaio andaluz poderá condicionar toda a movimentação
política em Espanha, iniciando trajetórias políticas que, em função dos resultados,
ganhem embalagem e poder de disseminação.
Em França, onde tudo indica o PS francês enfrentará uma
derrota histórica, a questão da cenarização apontará mais para a eventual
formação de alianças para barrar a progressão da Frente Nacional ou para uma dinâmica
imparável da Frente Nacional que, a verificar-se, mudará por completo o contexto
político europeu. Marine Le Pen equiparava recentemente a União Europeia a uma
ditadura e chamava a Durão Barroso o chefe dos guardas. Não é difícil imaginar
os efeitos de tal vitória nas sequências possíveis do projeto europeu.
Entretanto, o pensamento de sentido e espectro único que
tem vigorado entre as instâncias comunitárias continuará, tal como os nossos
governantes, a aligeirar responsabilidades, ignorando as consequências da
pretensa receita económica universal e da fuga doentia aos escrutínios democráticos
nacionais.
Por tudo isto, os resultados eleitorais de hoje por mais
promissores ou desagradáveis que se apresentem permitirão, por certo, antecipar
melhor os próximos desenvolvimentos.
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