O português médio, entregue aos seus problemas e à
desesperada tentativa de suster a regressão das suas condições de vida e
oportunidades de ascensão social, assiste atónito ao bate-boca alimentado pela
comunicação social ávida de sangue político entre um desleixado
primeiro-ministro em exercício, que perdeu já o sentido da vergonha
institucional, e um ex-primeiro-ministro que resiste com sete vidas, não
sabemos se a um gigantesco flop de
investigação judicial se à armadilha das suas próprias ilusões de ambição e de megalomania.
A confirmação desbocada do desleixo do primeiro e
sobretudo do nível baixinho que a geração de políticos como Passos Coelho
colocou o exercício das funções de governação não necessita de desenvolvimentos
e esclarecimentos futuros. É já um dado suficientemente adquirido. Não
necessita de evidências adicionais. Ninguém convencerá PC que um mínimo de
pudor exigiria um outro tipo de retratamento. PC parece apostado em mostrar aos
portugueses que não devem esperar um referencial de governação mais elevado,
que se distinga da arraia-miúda e seja referencial de cumprimento e consistência
cívica. Não, PC quer demonstrar que a governação reproduz as mais profundas
limitações dos portugueses, não feios, porcos e maus mas desleixados,
impreparados, baixinhos de pensamento e de convicções.
Quanto ao desfecho das agruras do ex-primeiro
ministro, comunicando a partir da prisão preventiva cujo regime cheira a bolor,
seguramente que teremos de esperar mais tempo. As narrativas da comunicação
social podem não dizer tudo. Assistiremos a incursões cirúrgicas e sem escrutínio
jurídico ou democrático nos segredos do processo. Aguardaremos e cheira-me que
o maquiavelismo que pode caminhar por estas bandas produzirá ondas em pleno cenário
de aproximação às legislativas.
Mas, de qualquer modo, o português médio dará
futuramente consigo a maturar com os seus botões que entre o desleixo e
despudor político e a ambição sem limites deverá haver um equilíbrio para
acolher as suas mágoas e nele projetar as suas esperanças e empatia identitária.
Nesta matéria estou próximo do português médio.
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