José Pacheco Pereira não é meigo, tem o comentário crítico
bem afiado e tem um discurso de oposição mais inteligente do que a própria oposição.
A sua crítica da maioria das personalidades do atual governo é impiedosa
(Homens sem qualidades e sem responsabilidades) e só temos de agradecer-lhe por
nos ajudar a manter o espirito crítico bem vivo, que não seja pela simples
questão de que não gostamos de que nos tomem por parvos.
A sua referência ao tom enjoado e entediado com que Pires
de Lima lá vai fazendo a governação do seu ministério da Economia é de manual e
o papel de “bufão da corte” em que o próprio ministro se tem colocado, talvez
fazendo jus ao mau feitio do seu progenitor, é de fino recorte. O modo como
Pires de Lima levou a mal as intromissões do FMI na narrativa de campanha
eleitoral com que a maioria pretende amordaçar os portugueses diz bem de duas
coisas: a ambivalência do governo para com aquele membro da Troika e a própria
bipolaridade desta instituição que não há maneira de acertar com a terapia
certa para os programas de ajustamento.
Mas a atribulada passagem de Pires de Lima pelo ministério
da Economia, com aquela imagem de gestor de primeira linha que os media
elaboraram ou que ele próprio habilmente construiu, levou-me a pensar se
correspondem à realidade as fortes expectativas que se colocam neste ministério.
Recordo-me que, quando interpelado pelos jornalistas sobre quem o PS teria
disponível para ministro das Finanças, o então em exercício António José Seguro
dizia que o PS estava mais preocupado com o ministro da Economia. Ora, depois
de pensar no assunto, não sei se o PS terá grande interesse em cavalgar essa
ideia e apostar as fichas na personalidade do ministério da Economia. O
problema é que, face às escolhas públicas que uma alternativa eficaz à governação
atual tem de realizar, não me parece que reste grande margem de manobra à pasta
nos próximos tempos. Precisamos, é verdade, de ideias estruturadas sobre o modelo
económico e produtivo e que não variem ao sabor da inspiração ou da respiração
do ministro. Em termos de instrumentos teremos essencialmente os Fundos
Estruturais com a sua grande aposta nas empresas e na sua interação com o
sistema científico e tecnológico. Em princípio, os reguladores deverão ter a
sua independência assegurada e, espera-se, competência para o fazer. O cenário macroeconómico
não passará por ali. Precisamos de força política para negociar em Bruxelas
alguma moderação da política de concorrência europeia para garantir algumas opções
de política industrial (no seu novo quadro de política de inovação e
internacionalização) para acelerar a mudança do perfil de especialização
produtiva capaz de absorver mais qualificações. Mas essa força política
dificilmente estará concentrada no putativo ministro da Economia.
Talvez o ar entediado e enjoado de Pires de Lima queira
dizer isso mesmo. Afinal para aquele ego escasseiam instrumentos e por isso o
homem tem optado por uma “stand-up comedy”
de mau gosto e algo canhestra.
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