O acompanhamento do como o FED americano se está a
posicionar face à inequívoca recuperação da economia americana e sobretudo do
modo como a sua Chairwoman Janet Yellen controla o seu discurso e integra as
diferentes sensibilidades presentes no Federal Open Market Committee (FOMC) é
um exercício recompensador pelos ensinamentos que traz sobre o exercício da política
monetária. Se há alguns anos me dissessem, a um desenvolvimentista e mais
apreciador dos temas da economia real como eu, que me iria interessar pela política
monetária ficaria espantado.
A pressão que o mercado está a realizar para que o FED
clarifique a sua posição quanto ao momento em que subirá taxas de referência do
FED é enorme, mas o gradualismo que parece inspirar a nova Governadora é notável
de dosagem e inteligência. Na sua sessão de hoje, o FOMC manteve o intervalo de
0 a 0,25% para a “federal funds rate”, embora não afastando a hipótese de que
em próximas reuniões essa taxa possa ser aumentada, em função do comportamento
da economia americana. A subtileza da comunicação de Yellen é ter retirado da
sua fraseologia a palavra “ser paciente” relativamente à referida possibilidade
de subidas de taxa, parecendo querer libertar-se desse condicionamento para
poder mais livremente optar por uma eventual subida.
Mas o FED enfrenta, por outro lado, a pressão em sentido
contrário suscitada pelo debate em curso de que a valorização do dólar
sobretudo face ao euro, determinada pela depreciação deste último, irá
provavelmente ter implicações penalizadoras para o crescimento económico
americano. Por isso, paradoxalmente, ou se calhar não, o FED reviu também hoje
em baixa as projeções de crescimento económico e de inflação para a economia
americana (e também das taxas de juro) parecendo querer dizer que está recetiva
aos que afirmam que o dólar forte irá penalizar o crescimento americano. A nota de imprensa do FOMC afirma que “o Comité
antecipa que será apropriado subir a taxa de referência quando se observar uma
melhoria mais profunda do mercado de trabalho e estiver razoavelmente confiante
que a inflação evolua em direção ao objetivo de 2% a médio prazo. Esta mudança
na orientação para o futuro não significa que o Comité tenha já decidido o
timing para uma subida inicial da taxa de referência”.
Concluo daqui que, apesar da saída do discurso da
palavra, Janet Yellen compreendeu bem que uma prematura subida da taxa de referência
e consequentemente um aperto restritivo precoce da economia americana poderia
pagar-se caro. É um conforto ter alguém assim à frente dos destinos do mais importante
Banco Central.
Resta saber até quando o FED aguentará ver o dólar em
apreciação progressiva por força da depreciação do euro imposta pela intervenção
de Draghi no quantitative easing à
europeia. Mas isso é outra história. E o BCE teve alguma sorte em ter do lado
de lá uma economia bem mais recuperada do que a europeia, apesar dos sinais
mais positivos das últimas projeções da Comissão Europeia.
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