(Paolo Mauro, http://www.iie.com)
Há evidências que, apesar de o serem, justificam chamadas de atenção recorrentes. Um dos casos mais notórios é o do caráter estreito da relação entre crescimento económico e dívida pública, pese embora o facto de dela poderem decorrer implicações teóricas e políticas não totalmente convergentes ou até contraditórias.
Nos Estados Unidos – goste-se ou não o lugar do mundo onde o debate económico vai mais longe em termos de riqueza e profundidade (deixo por ora de lado a questão conexa das matérias para tal selecionadas) – o tema está completamente na ordem do dia, muito como subproduto da reflexão dominante em torno da “estagnação secular” que voltou a ser objeto de grande centralidade nas últimas conferências realizadas pela “American Economic Association”.
Num texto recente a que acedi, um senior fellow do “Peterson Institute for Internatinoal Economics” que esteve duas décadas no FMI (Paolo Mauro) dava conta de algumas preocupações metodológicas a não escamotear, designadamente as seguintes: a importância de distinguir com clareza estagnação secular em sentido estrito e situações mais genéricas de declínio na taxa de crescimento económico; a frequente confusão que é feita entre uma desaceleração duradoura e um abrandamento temporário do crescimento, com inevitáveis reflexos na esfera política e especialmente em termos de política orçamental; a existência de uma larga variedade de crises de dívida que foram provocadas por desacelerações inesperadas e duradouras no crescimento económico não reconhecidas em devido tempo (conforme comprovados ensinamentos da história económica) – o gráfico acima, reportado à situação nem sempre suficientemente sublinhada e devidamente estudada do Japão, é disso uma ilustração exemplar (vejam-se os três períodos de crescimento em baixa referenciados – entre a espetacular performance do pós-guerra, uma primeira quebra na sequência do primeiro choque do petróleo e uma segunda associada ao rebentamento da bolha especulativa de ativos no início da década de 90 – e o comportamento exponencial do rácio da dívida em relação ao PIB).
De facto, a simples aritmética não permite os enganos que podem ser gerados pelo otimismo de alguns políticos (ou de certos técnicos que lhes fazem a corte e o serviço, como ainda não há muito tempo por cá testemunhamos com os troikistas). Para os leitores menos versados na matéria, sugiro o exemplo acima que há tempos Bagão Félix veiculou na sua rubrica de comentário na “SIC Notícias”: a manutenção de um determinado nível de dívida pública (60% do PIB no caso), a défice público constante (os míticos 3% no caso), só pode ser possível se a taxa de crescimento nominal da economia (crescimento real mais inflação) corresponder a 5% ao ano. O exemplo de Mauro vai no mesmo sentido quando, de modo diverso, refere a dimensão do erro a que chegaria uma projeção do rácio de dívida pública em termos temporalmente estáveis ao longo de uma ou duas décadas (100%, p.e.), a défice constante e portanto acumulativo, se o crescimento económico decaísse em 1% relativamente ao inicialmente assumido: os 100% projetados redundariam finalmente em 140% em dez anos e em 200% em vinte. Cuidados básicos a ter nestas coisas, portanto...
Sem comentários:
Enviar um comentário