Vai por aí uma grande euforia associada ao atingimento pela economia portuguesa de um grau de abertura às exportações em torno ou superior a 50%. Euforia que não se limita aos políticos (que apesar de pouco terem a ver com o tema ou, melhor dito, que em pouco terão sido contribuintes significativos para a produção do dito resultado), chegando mesmo a atingir alguns observadores suscetíveis de serem considerados insuspeitos (quer pela sua especial competência técnica quer pela sua distância em relação ao poder socialista).
Ninguém confrontará a ideia de que é objetivamente positiva uma evolução ascendente do rácio em questão, sobretudo pelo facto de a mesma traduzir um maior grau de tributo do desempenho económico do país em relação ao escrutínio último dos mercados internacionais e, portanto, sinalizar alguma significância dos acréscimos competitivos verificados nas empresas nacionais. Trata-se, aliás, de um valor que adquiriu algum simbolismo na opinião pública portuguesa, o que ficara bem comprovado pelas sucessivas declarações do então ministro da Economia (Pedro Siza Vieira) quanto à possibilidade de as exportações atingirem 50% do PIB antes de 2025 embora tenha acabado relegado para outras temporalidades (houve quem tivesse passado a falar do final da década) por via dos marcantes efeitos de recuo provenientes do fenómeno pandémico.
Dois elementos complementarmente interpretativos devem ser aduzidos para uma melhor perceção do que poderá estar a ocorrer, por um lado, e do seu impacto comparativo, por outro. O primeiro não tem uma resposta única, dado que o argumento de alguns no sentido de que o salto principal vem dos serviços (e, designadamente, do turismo e do imobiliário) pode ser disputado à luz de registos estatísticos particularmente afetados pelas enormes quebras dos anos de crise e pelas caraterísticas das subsequentes dinâmicas de recuperação; só o futuro mais ou menos próximo o dirá, sendo que preciso será ainda demonstrar que serviços são esses e que sustentabilidade estrutural manifestam real ou potencialmente. O segundo tem uma resposta empiricamente sólida, embora com precariedades que a natureza da ciência económica (uma ciência não exata mas social) nunca conseguirá verdadeiramente ultrapassar, e essa é a que emerge do gráfico abaixo em que se compara a situação da economia portuguesa em 2022 com a dos seus 26 parceiros europeus (arrumados de acordo com uma ordenação notoriamente demarcada por cores diversas) ― fica ali claro que Portugal será hoje, ainda assim, o sétimo país economicamente menos aberto da União (apenas à frente de quatro países do Sul da Europa e da Finlândia e Roménia e bem atrás de tantos outros relevantemente comparáveis, como a Bélgica e a Holanda, a Hungria e a Chéquia ou a Dinamarca e a Suécia).
Aqui chegados, insisto em que importará não iludir a questão principal: será que está mesmo algo a acontecer de novo, ou de diferente, na economia portuguesa? Terão razão aqueles que atribuem importância aos sinais esparsos que vão parecendo ressaltar? Principalmente quando referem em que o que quer que se esteja a produzir não tem origem predominante do lado do Estado mas sim do lado das empresas e da sua dinâmica nos mercados internacionais de bens e serviços. Sim, entendo que temos aqui um tema a dirimir com as “armas” (estatístico-factuais) que tivermos disponíveis, ora procurando perceber se os 21 mil milhões de euros registados em 2022 a crédito da rubrica de “Viagens e Turismo” traduzem um salto essencialmente conjuntural ou tendencialmente estrutural (os três primeiros meses de 2023 apontam para uma continuação em alta destes números mas existirão fatores de upgrade dentro desta evolução?) ora procurando investigar o detalhe e o alcance das dinâmicas empresariais e setoriais subjacentes a um volume de exportações de bens já próximo dos 80 mil milhões de euros (com particular peso específico reportável a uma metalomecânica cada vez mais diversa e complexa e cuja capacidade exportadora se situará entre os 23 e os 27 mil milhões de euros).
Prosseguirei, pois, este tipo de incursões em torno das (novas?) realidade económicas nacionais, nomeadamente através da reunião de dados qualitativos e de análises temporais dos valores unitários exportados, do comportamento das nossas vendas em eventuais destinos geográficos mais exigentes ou do contributo de indicadores indiciadores da presença de fenómenos de acrescida robustez empresarial. Aqui irei dando conta do que puder apurar.
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