O fenómeno da dívida é complexo e tem variadas cambiantes. Foco-me hoje aqui numa dimensão que valoriza a respetiva abrangência, ou seja, que não privilegia estritamente a sua componente pública (como é mais frequente e ideologicamente eficaz). O gráfico que construí para uma amostra de doze países europeus (incluindo membros e não membros da União Europeia e da Zona Euro) revela-nos algumas curiosidades, umas expectáveis e outras eventualmente inesperadas. Desde logo, um sul onde a dívida pública surge dominante (exceção feita à França, o país da amostra com maior volume relativo de endividamento), mas em que a dívida privada total (empresas e famílias) lhe é superior no caso dos dois países ibéricos (ao invés do que acontece em Itália e na Grécia). Depois, saliência para a enorme significância da dívida empresarial privada na maioria dos países mais a norte e, coincidentemente, ditos mais ricos (Suécia, França, Suíça, Países Baixos, Bélgica, Dinamarca e Finlândia); com alguns deles (Suíça, Países Baixos, Suécia e Dinamarca) a manifestarem ainda níveis relativamente fora da norma em termos de dívida das famílias. Por fim, o especialíssimo caso alemão, o único que evidencia um saudável equilíbrio entre setores institucionais. No cômputo geral deste exercício, impõe-se-me uma chamada de atenção para um facto pouco sublinhado: o de, a despeito das particulares dificuldades e repercussões associadas ao peso das dívidas públicas nacionais, emergir uma hierarquia de endividamentos globais que não se limita a apontar o dedo aos culpados costumeiros e antes faz também sobressair outras realidades (como as dos maiores valores de França, Suíça, Suécia, Bélgica e Países Baixos em relação a Portugal, Espanha e Itália, por exemplo). Sendo que muito teríamos ainda de declinar de toda esta alavancagem para que pudessem ser ressaltadas conclusões verdadeiramente sólidas e de pertinência mais inequívoca.
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