Reina o desconhecimento generalizado sobre o incidente que por estes dias ocorreu na Rússia tendo por protagonista os mercenários do chamado Grupo Wagner de Yevgeny Prigozhin, provocando um fim de semana frenético e cheio de (des)conhecimento, (des)informação e (des)ilusão. Mas a mais pura das verdades é que nenhum desses especialistas de pacotilha que nos aparecem a especular nos écrans televisivos está realmente em condições de saber o essencial sobre o sucedido ou de avaliar o respetivo sentido e alcance.
Tratou-se de uma encenação ou de um motim/rebelião? Assistiu-se a uma evidência da fragilidade de Putin ou a algo que lhe acabará por dar novo fôlego? Teve a reação popular em Rostov algum significado ilustrativo sobre um crescendo de contestação interna ao regime ou tal não constituiu mais do que uma manifestação localista sem grande expressão política nacional? Houve algum dedo americano-britânico nos acontecimentos ou foi a inteligência ocidental apanhada de surpresa? Resultará uma reviravolta na marcha da guerra em favor dos ucranianos ou uma reorganização capaz de permitir um novo cerrar de fileiras das forças russas? A meu ver, tudo perguntas sem resposta ― ou, talvez melhor, tudo perguntas cuja resposta só virá com o passar do tempo e à medida que os factos viabilizem a devida concatenação das revelações e das estratégias que lhes subjazam.
O que é possível dizer-se de momento? Certamente que Putin estará perante um sério abalar da aparente solidez do seu poder e que não restará a Prigozhin grande esperança de vida, sendo que ou os russos irão recrudescer em violência desesperada (nuclear incluída) ou surgirão como um inimaginável “tigre de papel” em recuo mais ou menos bem disfarçado. Ou seja, tudo está por demais em aberto no que toca a um conflito de potenciais contornos altamente melindrosos e que marcará seguramente ― agora sim em definitivo ― o fim de uma época, whatever it means...
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