(Na vizinha Espanha, enquanto que a generalidade dos analistas de direita começa a preparar as condições de opinião para eventuais acordos do PP com a extrema-direita do VOX e com isso retirar de cena o sanchismo, dei de caras com uma crónica do excelente jornalista Fernando Salgado na Voz de Galicia que analisa a decisão temerária de Sánchez de antecipar eleições gerais. O tempo político, o conhecimento das suas coordenadas e as diferentes formas de o acelerar ou retardar sempre me seduziram, constituindo aliás uma das minhas abordagens preferidas da política. Considero este parágrafo de Fernando Salgado um prodígio de mestria analítica e por isso me quedo simplesmente com a sua reprodução.)
“Saber gerir o tempo é fundamental na política. Formalmente, Sánchez antecipou as eleições e poupa com isso dois terços da tortura. Mas na realidade não reduziu o tempo em quatro meses, apenas o eliminou quase por completo. À velocidade da luz, numa versão muito livre de Einstein, o tempo detém-se. A aceleração de Sánchez retirou tempo a todos. O PP ficou sem tempo tornar digerível em doses suaves a sua aliança com a extrema-direita. Os socialistas, sem tempo, para lamber as suas feridas e programar a purga interna. A esquerda da esquerda, sem tempo para continuar a destruir-se e suicidando-se em câmara lenta. A direita da direita, sem tempo para saborear o seu êxito e degustar os primeiros sabores do poder. Sánchez desmontou o escorrega e optou por um salto no vazio sem rede. O resto da história está por escrever. Com o tempo suspenso, tudo é possível.”
Brilhante, não acham?
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