Acabaram de ser publicados pelo Eurostat os últimos dados atualizados sobre os níveis de consumo (à paridade de poder de compra) de bens e serviços das famílias dos vários países europeus. O gráfico acima sintetiza os grandes números. Importa também pôr esta informação em diálogo confrontativo com a que habitualmente aqui temos vindo a trabalhar como indicador da riqueza relativa dos diversos países, os respetivos índices de PIB per capita (igualmente à paridade de poder de compra) ― o gráfico abaixo disso dá conta em termos claros, desde logo evidenciando uma maior distribuição do PIB per capita (entre 59% da média europeia para a Bulgária e 261% para o Luxemburgo) relativamente ao Consumo per capita (de 67% para 138% nos mesmos países).
Mas o mais interessante de sublinhar estará no facto muito saliente de aqueles dois níveis comparados surgirem muito notoriamente desequilibrados no caso de alguns países. Com efeito, e recorrendo ao gráfico seguinte (afinal, apenas uma versão mais simplificada e distintamente ordenada do anterior), veja-se como dois países em particular (Luxemburgo e Irlanda) revelam uma diferença muito marcante entre os seus índices de produção e consumo; diferença que se apresenta em favor daqueles e que é interpretada por alguns analistas como decorrente de medições de desigual âmbito, a segunda traduzindo a atividade económica real e o seu impacto em termos de bem-estar das famílias e a primeira acrescentando à anterior os efeitos de movimentações financeiras associadas a firmas multinacionais e à localização fiscal de muitas empresas, bem assim como a paradisíacos benefícios fiscais em presença.
Descendo a um maior detalhe, o gráfico que segue torna mais visível os diferenciais existentes entre os dois indicadores em causa. No essencial, e para além dos dois casos especiais atrás referidos (Irlanda e Luxemburgo), registem-se os ainda significativos valores no mesmo sentido (maior PIBpc) de Dinamarca e Malta e os ainda significativos valores observados em sentido inverso (maior consumo per capita) por Grécia, Roménia, Bulgária e Portugal; estes últimos apontam para uma correção do nível de bem-estar associado a estes quatro países (versus nível de riqueza), a qual resulta para Portugal num posicionamento em 17º lugar no ranking europeu de consumo per capita (junto com Espanha e Malta) contra o 20º no de PIB per capita (junto com Hungria e Roménia). Quanto ao resto, uma grande confluência na informação substantiva relativa aos outros países (com Espanha e Finlândia a apresentarem uma sintonia total e Alemanha, Croácia, Itália, Eslovénia e Bélgica a evidenciarem um afastamento inferior a 5%). Eis assim explicitado um contributo adicional para a validação da velha tese de que as medidas de nível de desenvolvimento têm que se lhes diga e não devem ficar amarradas ao maldito indicador tradicional.
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