quinta-feira, 29 de junho de 2023

FEIJÓO E A SUA CIRCUNSTÂNCIA

(Tomás Serrano, https://www.elespanol.com) 

(Agustin Sciammarella, http://elpais.com) 

Um breve apontamento para não deixar sem resposta uma referência do meu amigo do lado ao facto de a relação institucional próxima que desenvolvi com Alberto Feijóo me permitir um melhor conhecimento do que poderá estar presentemente a passar-se por terras de Espanha. Reconhecendo a dita proximidade, não assumo que dela possa decorrer uma especial capacidade de leitura quanto ao tema do momento, a saber, o do tipo e grau de relacionamento que o PP deverá estabelecer com o Vox no pressuposto de que não logre obter a 23 de julho uma maioria absoluta para governar ― ou seja, até onde deverão os “populares” liderados por Feijóo ir em termos de cedência às exigências de Abascal e de uma extrema-direita ideologicamente bastante radical e negocialmente muito agressiva? De facto, a questão é velha e quase já virou clássica, sendo mais uma vez claro que, perante a sua opção de dar um passo arriscado no sentido de disputar o poder nacional, o ex-líder galego não iria agir diferentemente de muitos antecessores ou contemporâneos perante realidades semelhantes (ainda que marcadas por contextos distintos); a essência do assunto não é, portanto, de ordem pessoal (maior coerência de princípios, logo maior intransigência, por parte de uma melhor pessoa, digamos assim).



Os factos aí estão para o demonstrar, vejam-se como as pressões sobre Maria Guardiola na Extremadura já a levaram a recuar no seu proclamado afastamento em relação ao Vox; releva ademais um quadro em que Feijóo tem à perna uma companheira de partido (Isabel Díaz Ayuso) que nunca deixou de fazer constar (como aqui se sublinhou em devido tempo) quanto iria fazer uso do seu espaço próprio e decisional no partido, ou seja, quanto não iria permitir a Feijóo que, sob qualquer condição mais ou menos justificável (e a não associação ao Vox até seria uma delas), colocasse um pé em ramo verde e assim viesse dificultar o prioritário fim do sanchismo e a sua própria ambição pessoal no novo contexto político a surgir. Sintetizo: uma coisa é Feijóo ser indiscutivelmente um político focado e um democrata moderado (não entrando aqui em apreciações mais qualitativas quanto à dimensão estratégica que o marca nem quanto à sua capacidade negocial ou coragem para arriscar), coisa diversa é olhar para o Feijóo desta circunstância e dele se poderem esperar cambalhotas proclamatórias a um mês das eleições que seguramente poderão traçar o rumo definitivo do seu destino político.


(José Maria Pérez González – “Peridis”, http://elpais.com)

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