quarta-feira, 7 de junho de 2023

PARA CONTINUAR?

 


(Regresso ao Foreign Direct Investment Report, com dados de 2022, para rediscutir o que a estratégia e intensidade do Investimento Direto Estrangeiro em Portugal poderão representar para a consolidação dos sistemas de inovação que a Norte e no Centro estão implantados. Os números de Portugal destacam-se no mapa do crescimento do número de projetos de IDE com destino à Europa, mas o relatório é omisso quanto à magnitude do investimento envolvido e estrutura produtiva que suporta. Pesquisei informação junto da base estatística do Banco de Portugal e é possível inferir alguma coisa sobre a evolução mais recente dessa dimensão de investimento).

Sempre considerei que para os sistemas de inovação em vias de consolidação no território que vai de Braga-Guimarães às regiões de Aveiro, Coimbra e Leiria, passando obviamente pela aglomeração metropolitana do Porto, o seu potencial de transformação está fortemente condicionado pelo peso e influência do Investimento Direto Estrangeiro que escolha o território nacional como destino de implantação. O papel estruturante deste último é marcante, como o comprovam empresas como a BOSCH (Braga) e Continental (Vila Nova de Famalicão), sobretudo pela interação que desenvolvem o tecido de PME mais inovadoras localizadas nestas concentrações industriais, com forte peso na fixação de recursos humanos qualificados e participação colaborativa em projetos de I&D empresarial e inovação.

Ao tecido de PME existentes, mesmo que partilhem um ecossistema de inovação aberto e muito dinâmico, falta a capacidade de acumulação de capital necessária e por isso a interação com o IDE mais estruturante é decisiva.

A relação entre os fluxos e tipos de IDE e o modelo global de desenvolvimento económico do país de acolhimento é conhecida. No período em que o modelo português se concentrou perigosamente nos não transacionáveis, o IDE acolhido seguiu esse padrão, sendo o imobiliário e o setor financeiro as grandes fontes de atração. A situação global parece estar a mudar mas continua a faltar informação de acesso fácil para compreendermos melhor o que está efetivamente a passar-se e de que modo os novos fluxos de IDE acolhido estão a contribuir para a consolidação de um novo perfil de especialização nacional. Estima-se, assim, que os 240 novos projetos referenciados no FDI Report de 2022 tragam alguma esperança em matéria de IDE estruturante.


Pesquisando informação junto da base estatística do Banco de Portugal (ver gráfico acima), observa-se que o crescimento do IDE tem sido continuado a partir do 3º trimestre de 2020, o que é uma boa notícia, o que contrasta (ver gráfico abaixo) com o comportamento do IDE em imobiliário, mais errático.


Não tenho a certeza se a política nacional de atração de IDE tem em devida e suficiente conta a necessidade do IDE se constituir em elemento estruturante dos processos de consolidação em curso dos sistemas de inovação em território nacional. A organização da AICEP não oferece essa segurança, mas cabe também às regiões, CIM e municípios que acolhem esses promissores ecossistemas de inovação realizarem os seus esforços. Existe evidência que várias agências de atração de investimento estão a ser criadas, de iniciativa intermunicipal ou municipal. É o contravento necessário a uma AICEP cuja estratégia territorial continua por clarificar. Mas existe aqui um risco de atomização institucional que não pode ser menosprezado.

 

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