terça-feira, 27 de junho de 2023

A REVOLUÇÃO DAS RENOVÁVEIS

 


(Desde já há algum tempo, passei neste blogue a dedicar atenção acrescida ao modo como se vai concretizando o avanço das renováveis, em direção a um padrão energético em conformidade com os ajustamentos que o capitalismo deve realizar, para sobreviver, ao paradigma climático que está amplamente diagnosticado. Essa questão é crucial para compreender a transição que os modelos e a estrutura produtivos vão ter de superar, num contexto em que a subsidiação das políticas públicas e a sua repercussão no cálculo económico dos consumidores e empresas vão durante largo tempo andar a par, para depois ser apenas o cálculo económico a determinar o êxito ou o fracasso dessa transição. Todos percebemos que essa transição pode ser mais rápida ou mais lenta e que essa simples evidência será crucial para induzir o padrão de comportamentos. O ponto é este. Se a transição mostrar evidência de ser rápida, essa tendência não poderá deixar de influenciar os mais tardios na decisão de mobilizar energias com maior potencial de descarbonização. Por exemplo, se o mercado dos veículos elétricos acelerar, com a concomitante redução de custos, obviamente que mesmo eu, um dos tardios nessa opção, terá de pensar duas vezes.)

Como é natural em processos de transição desta natureza, na fase em que nos encontramos, dado o peso da subsidiação pública, elevado já que a política pública, sobretudo em alguns países como os EUA, abriu os cordões à bolsa e deixou-se de panaceias, a descida dos custos de adoção das diferentes alternativas renováveis e de baixo carbono vem combinada com os efeitos dessa subsidiação. Não vem por isso nenhum mal ao mundo por isso. O objetivo da subsidiação é mesmo esse e, mesmo contando com a pressão contrária das energias fósseis, o fundamental é que os custos de adoção vençam barreiras e que, mais tarde ou mais cedo, a subsidiação perda peso e a descida dos custos de adoção resultarão apenas da evolução tecnológica e da absorção produtiva dessas tecnologias.

Nem sempre encontramos as fontes de informação mais pertinentes para nos documentar sobre a evidência relevante, mas, neste caso, à boleia da inesgotável fonte de informação que o substack de Noah Smith representa, dei de caras com uma publicação de uma instituição sem fins lucrativos americana, a RMI, que acaba de publicar (junho de 2023) uma valiosa síntese dos grandes trends de evolução das renováveis, que recomendo vivamente.


O gráfico que abre este post traz-nos evidência muito convincente sobre a descida de custos das energias eólica (onshore e offshore), solar e produção de baterias, que tem por contrapartida (ver gráfico acima) o enorme crescimento de produção deste tipo de renováveis, mas também da venda de veículos elétricos e de baterias.

Claro que não há bela sem senão, tudo isto retrata a intervenção pioneira da China que domina a cena mundial das renováveis, estando neste momento o Ocidente a acordar da distração e a fazer-se ao caminho.


Mas o que é relevante assinalar é que a descida de custos destas tecnologias começa a colocar as energias fósseis em posição de desvantagem face à novidade das renováveis e esse é o principal passo para que o cálculo económico e o mercado desempenhem o seu papel.

E uma mensagem de esperança fica do relatório: “não há lugar nem a desespero nem a complacência – o acordo de Paris ainda está ao nosso alcance”.

 

Sem comentários:

Enviar um comentário