quarta-feira, 14 de junho de 2023

PORTUGAL E O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NO CONTEXTO EUROPEU

O Eurostat divulgou recentemente um relatório de progresso atualizado relativo à evolução observada em termos de desenvolvimento sustentável na União Europeia (o que tem por base os 17 SDGs, i.e., os 17 objetivos incorporados na Agenda para o Desenvolvimento Sustentável 2030 das Nações Unidas). O gráfico seguinte, que entendo curioso e indiciador, reproduz os respetivos resultados no tocante ao caso de Portugal ali monitorizado no contexto europeu.


(a partir de https://ec.europa.eu)
 

Genericamente, a evolução global portuguesa pode ser considerada positiva, nomeadamente porque o país só aparece como estando a afastar-se dos ditos objetivos em dois casos (um em que o respetivo estado surge como pior do que o da UE ― a saber, o objetivo 14, life below water(águas marinhas) ― e outro em que o respetivo estado surge como melhor do que o da UE ― a saber, o objetivo 10, redução de desigualdades) e também porque, nos restantes 15 estados de progresso reportados, a evolução se mostra pior do que a da UE em apenas 6 deles (cidades e comunidades sustentáveis; consumo e produção responsável; saúde e bem-estar; indústria, inovação e infraestrutura; trabalho decente e crescimento económico; ações climáticas) contra 9 melhorias (pobreza; fome; qualidade da educação; igualdade de género; água e saneamento; energia acessível e limpa; life on land; paz, justiça e instituições fortes; parcerias para os objetivos).

 

Numa outra perspetiva, mais alinhada esta com as chamadas “quatro dimensões de sustentabilidade competitiva” ― a saber, a ambiental, a fairness da sociedade e da economia, a produtividade e a estabilidade macroeconómica ―, retenham-se: (i) um comportamento bastante positivo no plano ambiental (com as atrás referidas exceções das águas marinhas e das cidades e comunidades sustentáveis), surgindo explicitamente alguns elementos valorizados pela positiva (como o significativo aumento do peso da energia renovável no consumo final de energia, assim como o impacto ambiental da agricultura, a eutrofização das águas marinhas ou respostas a mudanças climáticas) e outros pela negativa (como sejam vários indicadores de economia circular, de transportes públicos ou de poluição de ruído); (ii) um comportamento bastante positivo no plano da fairness (com as atrás referidas exceções da redução de desigualdades e da saúde e bem-estar), surgindo explicitamente alguns elementos valorizados pela positiva (como especialmente a melhoria dos indicadores de pobreza e educacionais) e outros pela negativa (como sejam a persistente diferenciação entre cidades e áreas rurais e a pobreza energética, para além da sinistralidade nas estradas, da obesidade ou da esperança de vida saudável à nascença); (iii) um comportamento bastante positivo no plano da produtividade (com as atrás referidas exceções em sede de inovação e indústria), surgindo explicitamente alguns elementos valorizados pela positiva (como os das competências digitais ou do mercado de trabalho) e outros pela negativa (como sejam, em particular, os do percentual de alocação do PIB a investigação e desenvolvimento ou do número de patentes); (iv) um comportamento bastante positivo no plano da estabilidade macroeconómica, surgindo explicitamente alguns elementos valorizados pela positiva (como os do incremento do peso do investimento no PIB) e outros pela negativa (como os da dívida ainda elevada ou da fragilidade do apoio oficial ao desenvolvimento).

 

Feita a breve chamada de atenção que constitui este post, que a mais não aspira do que a sinalizar a real existência de relevante informação internacionalmente comparativa, sublinho a ideia de que muito haverá ainda a equacionar do ponto de vista de uma avaliação rigorosa do posicionamento português no seio da Europa a inúmeros títulos. Ir para além dos grandes números, quase sempre politicamente corretos (e genericamente bastante agradáveis para um Portugal de meio da tabela, como resulta dos casos-limite apresentados nos quadros imediatamente abaixo) no tipo de informes de que estamos a falar, exigirá necessariamente um maior grau de aprofundamento nas abordagens, ou seja, o abandono da dominante preguiça que limitativamente tende a remeter para os press releases das entidades que produzem e tratam as estatísticas; com a adicional probabilidade de que os detalhes a obter possam fazer sobressair alguns dos Diabos neles habitualmente escondidos (exemplos bem ilustrativos nos quadros mais abaixo). To whom it may concern...



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