terça-feira, 27 de junho de 2023

TENHO NOJO A ESTA DIREITA!

 


(Admito sem qualquer problema que o meu colega de blogue, que privou institucionalmente com Nuñez Feijoo de perto, possa ter uma avaliação mais fidedigna do atual líder do PP espanhol, antigo presidente da Xunta de Galicia. Sempre entendi que Feijoo pertencia a uma direita moderada, com a qual é possível conviver democraticamente sem problemas de maior e se os mentideros sugerem que a sua personalidade teve sempre o apoio da importante Opus Dei, em Espanha, isso também não me causa problemas de maior, sabendo eu que essa mesma Opus foi responsável por aspetos menos retrógrados do franquismo, ocupando lugares ministeriais em governos de Franco. É esta mesma personalidade que surge incontestavelmente em todas as sondagens como o vencedor antecipado das legislativas espanholas de 23 de julho, antecipando-se um resultado que trará ao PP uma diferença em torno dos 44 deputados em relação ao PSOE. O que justifica, então, que uma das vozes mais respeitadas do jornalismo espanhol, Pedro J. Ramírez, diretor do diário espanhol on line mais lido, profundamente liberal, El Español, 11 milhões e seiscentos e cinquenta mil utilizadores, com cerca de 600.000 leitores a mais do que o El País, assine um editorial, receando que o VOX possa trazer custos irremediáveis à campanha de Feijoo?)

Sempre entendi que Feijoo não é homem para grandes murros na mesa e cedo se percebeu a sua dificuldade para gerir internamente a fogosidade política de Isabel Diáz Ayuso, presidente da Comunidade de Madrid. Há, por exemplo, gente a escrever que D. Manuel Fraga Iribarne nunca assumiria um percurso de regresso às conversações com a direita mais radical como aquele que Feijoo parece disposto a fazer com os personagens de maior notoriedade do VOX, para salvar o acesso ao poder.

As duas últimas semanas trouxeram uma complexa recomposição do poder em algumas comunidades autónomas e ayuntamientos, com cedências para todos os gostos ao VOX. E o que transparece desses acordos mais ou menos públicos é uma espécie de “salve-se quem puder” para não irritar os confrades do VOX.

Destacámos neste blogue a coragem política da candidata do PP na Extremadura Laura Guardiola em manter a linha vermelha de não negociação face ao VOX, mas foi claro que as forças internas do PP pressionaram a candidata até ao possível, fazendo inverter a sua posição e dissipar a tal coragem política. É um facto que o VOX continua a negar a violência machista, mas que importa isso se o fundamental é aceder ao poder.

Mas outros casos noutras regiões dão conta que tipo de personagens políticos estão a assumir cargos de presidência e direção em Espanha. Assim, na veneranda Aragão, a nova presidente das Cortes, Marta Fernández do VOX, é uma admiradora convicta de Trump, mesmo depois da invasão do Capitólio, nega em absoluto a violência de género e a evidência científica das mudanças climáticas, acha que a China brindou o mundo com o COVID-19 e com este precioso curriculum é nada mais nada menos do que a segunda autoridade política da região de Aragão.

Na Comunidade Valenciana, a presidente das Cortes é uma ativista religiosa de vasto curriculum incendiário, Llanos Massó, com ações do mais puro ativismo religioso, estando na linha da frente de abordagens agressivas a clínicas que realizam intervenções de interrupção da gravidez. Ou seja, bem ao nível do ativismo religioso americano mais agressivo, e assumindo o segundo cargo institucional na Comunidade Valenciana.

Pedro J. Ramírez não fica por aqui e relembra que, nas Baleares, a presidência do Parlamento foi entregue a um militante de extrema-direita radical, Gabriel Le Senne, que defende uma ampla operação de combate à segundo ela substituição em curso da Europa branca e cristã por outros povos muçulmanos e africanos.

Dá a sensação que as negociações do PP com o VOX estão a preparar laboratorialmente a Espanha para, se for necessário, os resultados de 23 de julho serem trabalhados nesta direção.

Por mais estranho e dramático que este cenário nos possa parecer, ele vai ser paradoxalmente a boia de salvação que o PSOE e Pedro Sánchez irão acenar para ensaiarem a sua sobrevivência, mostrando que o acesso ao poder de Feijoo vai ser concretizado com a abertura de caminho ao fanatismo religioso e a todas as teorias da conspiração que os Trump e os Bannon deste mundo concebem para enganar os incautos e desprevenidos.

Que tempos estes e que nojo tudo isto me provoca!

 

 

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