(Para quem estudou como eu a globalização e as assimetrias do desenvolvimento económico nesse contexto, o “divide” norte-sul emergiu sempre como a mais vulgar manifestação do desenvolvimento desigual. De facto, é impressionante a diversidade de manifestações desse “divide” desde aspetos que nos habituamos a considerar como as grandes vantagens do Norte, como a governação, a cultura de imputação de responsabilidades ou “accountability”, a pujança económica e a mais intensa inovação, a investigação científica e sei lá o que mais. Por isso, foi com alguma surpresa que na floresta do Twitter alguém tenha sagazmente acrescentado mais uma dimensão a esse “divide” ou fosso. Mas neste caso, o Sul não fica nada mal na fotografia, tendo em conta os cânones de uma alimentação mais saudável. Reflexos da pobreza, ou simplesmente fruto de tradição alimentar que se recomenda. Não posso deixar de me recordar da intensa luta que Hillary Clinton travou por uma maior generalização da dieta mediterrânica nos EUA.)
O gráfico que abre este post não podia ser mais eloquente. Mas o que são alimentos ultraprocessados? Pelo que consegui pesquisar são essencialmente o resultado de produção industrial total ou maioritariamente conseguida com a incorporação de substâncias extraídas de alimentos (óleos, gorduras, açúcar, amido, proteínas), derivadas de constituintes de alimentos (gorduras hidrogenadas, amido modificado) ou sintetizadas em laboratório com base em matérias orgânicas como petróleo e carvão (corantes, aromatizantes, realçadores de sabor e vários tipos de aditivos usados para dotar os produtos de propriedades sensoriais atraentes).Pelo que consigo entender, trata-se de um aprofundamento do processamento alimentar, que é já visto como algo a conseguir em percentagens residuais pelas mais modernas conceções de alimentação saudável.
Ora o mapa publicado coloca os países do Norte, com o Reino Unido à cabeça dessa propensão, numa posição destacada em termos de percentagem de consumo de ultraprocessados, reportada às despesas das famílias totais. Depreende-se que são as condições da civilização urna que estão na base dessa deriva alimentar.
Mais pelo Sul, França incluída, as percentagens são mais baixas, sugerindo que o mais baixo nível de desenvolvimento económico pode estar associado a vantagens no modelo de consumo, no âmbito do que poderíamos designar de sustentabilidade alimentar.
Ou seja, neste caso, o Norte-Sul “divide” atenua os efeitos da distância à fronteira do desenvolvimento.
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