domingo, 11 de junho de 2023

ALAIN TOURAINE

O sociólogo francês Alain Touraine (AT), recentemente desaparecido aos 97 anos, marcou indiscutivelmente uma época do pensamento com as suas múltiplas incursões em torno dos movimentos e das transformações sociais. Iniciou-se, como tinha de ser, com o estudo da condição operária a partir do caso da Renault, primeiro, e das minas chilenas, depois. Foi, a partir da sua posição de professor em Nanterre, um ativista engagé no Maio de 68 para evoluir em seguida no sentido de uma crescente atenção ao que a dada altura passou a designar por “novos movimentos sociais” (estudantis, antinucleares, regionalistas, feministas, sem esquecer um especial interesse pelo sindicato polaco Solidarność). A ideia de “sociedade pós-industrial”, consagrada num livro datado de 1969, terá sido o seu legado mais consistente e duradouro (curiosamente com algum impacto nos debates nacionais posteriores ao 25 de abril, animando então posições políticas progressistas menos alinhadas partidariamente ― no Porto, o sociólogo Arnaldo Fleming emergiu como um seu seguidor próximo). Na fase final da vida, AT nunca deixou de intervir ativa e publicamente, sempre se mantendo bastante fiel à sua matriz essencial de pensamento, sem prejuízo de aproximações a agendas de esquerda liberal e/ou de solidariedade europeia (aqui privilegiando tónicas centradas na dimensão das migrações). Em suma: um intelectual de corpo inteiro ao longo de décadas focado na mudança social e na procura dos respetivos motores temporal e sucessivamente manifestados.

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