Terminou sem estrondo a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) à gestão política da TAP. Sem estrondo e, mais do que isso, completamente esgotada perante os portugueses (aposto que só uma imensa minoria seguiu com algum detalhe os vários episódios e incidentes produzidos ao longo de semanas de interrogatório e crescente desgaste). Pessoalmente fui aqui dando nota avulsa de alguns acontecimentos e não me atreveria a voltar ao assunto não fora a especialíssima penúltima audição, aquela que foi protagonizada por Pedro Nuno Santos (PNS). Sim, depois da imprevista desgraça do seu sucessor (João Galamba), o anterior ministro das Infraestruturas brilhou a grande altura naquelas sete horas e meia de Quinta-Feira passada; e fê-lo exibindo um manifesto “talento político” e um inequívoco “carisma”, como muito bem refere a última crónica de João Miguel Tavares (JMT) no “Público” (além do mais, até por comparação à aparente eficácia de um Fernando Medina “que parece sempre um chatíssimo burocrata”).
Dito isto, o que é de inteira justiça, subscrevo também a parte restante daquela excelente crónica, aquela em que JMT salienta a outra “face” de PNS a que chama das “qualidades perigosas” e que explica assim: “um enorme desejo de mostrar obra que pode cair no voluntarismo imprudente e um impulso tão grande para a ação que o espaço de reflexão se dissipa”. Pena que PNS não consiga resistir à hipersimplificação do rigor e à sua própria vangloriação, sobretudo porque se trata (como já aqui há muito sustentei) do político socialista potencialmente mais capaz da nova geração; veremos se entretanto logra, no seu regresso ao Parlamento e ao aparelho partidário e com a ajuda de uma presença televisiva recorrente, dar expressão àquele seu talento através de argumentos mais elaborados (ou menos precipitados) e de posicionamentos menos radicalizados (ou mais moderados), fórmula única para que, a meu ver, possa de facto aspirar a um papel de efetivo destaque no centro da política nacional.
No tocante a um balanço final da CPI, limito-me a três breves apontamentos. Primeiro, o de que os deputados não estiveram em geral à altura dos seus congéneres de outras comissões: Paulo Moniz é demasiado partidário, Pedro Filipe Soares não é Mariana Mortágua, Bernardo Blanco é cinzento e precisa de lastro, Bruno Dias é esforçado e trabalhador mas situa-se ideologicamente à côté, André Ventura esteve paupérrimo (o seu “camarada” Filipe Melo chegou mesmo a ser mais eficaz do que ele) e dos do PS será melhor nem falarmos. Segundo, o de que alguns dos previamente “condenados” acabaram por sair das respetivas audições praticamente incólumes (ou, pelo menos, respeitados pela sua consistência discursiva), casos particularmente evidentes em Alexandra Reis, Frederico Pinheiro e Hugo Mendes. Terceiro, o de que ficou a ser conhecida ou devidamente enquadrada e esclarecida toda uma importante série de factos relacionados com a gestão da TAP, matéria que me leva a considerar que a CPI valeu genericamente a pena no plano da sua “missão” de avaliação da gestão política da TAP (mas que aqui não aprofundarei por ora, embora a ela possa voltar se a evolução pública da análise ao dossiê assim o justificar).
O grande vencedor desta CPI acaba por ser António Costa, ele que a dada altura tremeu mas que soube escolher os seus momentos de intervenção e colocar adequadamente os seus peões (da competência do amigo ao servilismo de Mendonça Mendes e das chefes de gabinete) e acaba merecidamente triunfal perante o Presidente e a Oposição. Não fica, assim, espaço para que se retirem grandes conclusões políticas conjunturais da CPI (nem remodelação nem Galamba out), o que é pena. Fica, isso sim, uma triste e escusada imagem de degradação que não deixará de impactar na apetência dos cidadãos para levarem a sério a vida política nacional.
Sem comentários:
Enviar um comentário