segunda-feira, 19 de junho de 2023

FOI PARA ABRAÇAR O MOURINHO!

Estou plenamente consciente de que este representa apenas mais um casinho entre outros, assim apenas servindo para alimentar as malditas indecências que não nos largam. Mas o certo é que a ida de Costa a Budapeste foi no mínimo imprudente, por um lado, e que a sua explicação (aliás somente dada três semanas depois) tem uma carga de desculpa esfarrapada e pessimamente estruturada, por outro (para o efeito, sublinhei acima a “nota à comunicação social” do gabinete do primeiro-ministro com os tópicos insuficientemente esclarecidos ou, talvez melhor, quase autoculpabilizantes: para quê abordar a conclusão atempada dos seus compromissos oficiais em Portugal, para quê explicitar que o PM teve oportunidade (?) de fazer uma escala em Budapeste, para quê ir desencantar um improvável convite do presidente da UEFA, para quê referenciar o tratamento protocolar de o sentarem ao lado do homólogo húngaro?).

 

Como hoje disse Montenegro, toda esta história é estranha. Notoriamente merecedora, pois, de uma clarificação. Que, obviamente, não virá. Até porque, embora tal não conste da referida “nota à comunicação social”, a verdadeira razão de Costa poderá ter sido outra, segundo revelação expressa de Marcelo: “O primeiro-ministro ia para uma reunião internacional e entendeu que devia dar um abraço a José Mourinho. Ele disse-me: ‘olhe, é um português que está envolvido, eu vou dar-lhe um abraço, pode ser que dê sorte’. E quase ia dando sorte”. Das duas uma: ou Marcelo acha mesmo que tudo foi natural no modo como Costa se justificou perante ele e agiu em conformidade (o que não é de todo verosímil, até porque remete para um até agora desconhecido amor a Mourinho ― que, ainda assim, não vai ao ponto de o ter levado a ficar no estádio para assistir a um desempate por penaltis que podia ter favorecido a Roma!) ou Marcelo discorda da atitude de Costa e, não querendo dizê-lo frontalmente, limita-se a insinuá-lo para meros efeitos de o arreliar e atrapalhar.

De um modo ou de outro, toda a falta de transparência revelada por este pequeno processo (incluindo um uso do “Falcon” para fins predominantemente político-pessoais) tende a constituir-se numa manifestação de abuso de poder, bem própria de quem já se assumiu como quase inimputável e à beira de partir. E como, citando Daniel Oliveira, “quando não estão em causa os seus interesses, Costa não pensa para lá do momento”, cá estamos nós confrontados com mais uma porcaria.

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