(A economia americana e os americanos não param de nos surpreender. Sabemos que, em matéria energética, os EUA são uma espécie de dinossauro que interessa atrair para modalidades mais sustentáveis de oferta e procura de energia, quebrando o cordão umbilical com as energias fósseis. Sabemos ainda que nos EUA subsistem os grandes e poderosos interesses da indústria do petróleo e que aí se acomoda a inteligência da sua produção e gestão. Mas sabemos também que a administração Biden realizou com o Inflation Reduction Act (IRA) um esforço gigantesco de apoio ao investimento público e privado e que, por detrás da dimensão anti-inflacionista, está uma poderosa decisão de tornar a economia americana mais verde e progressivamente descarbonizada. Ora, nas condições de polarização agressiva em que a política americana se encontra, este esforço de intervenção pública da administração Biden é olhado de soslaio pela maioria dos Republicanos, investidos numa de Trump mood, sendo por isso curioso analisar como que é que o IRA (salvo seja) está a ser recebido pelo território americano.)
O sempre perspicaz Science Is Strategic (@scienceisstrat1) dá conta de um importante artigo de David Wallace-Wells no New York Times de 14 de junho, no qual, surpreendentemente, o estado do Texas aparece como aparentemente liderando o esforço da transformação energética nos EUA, depreendendo-se daí que será dos Estados mais ativos na mobilização dos apoios do IRA nesta matéria. O título do artigo de Wallace-Wells é provocador: “Até no Texas a revolução verde não pode ser parada!”.
O artigo dá-nos conta da batalha surda entre as forças políticas do Texas, dominantemente ligadas aos interesses das energias fósseis e dispostas a tudo para contrariar a ofensiva das renováveis, e o mercado, podendo dizer-se que a evolução mais recente mostra que o mercado tem sido capaz de suster a pretensão de ganhar o jogo na secretaria por parte dos interesses fósseis. Segundo Wallace-Weels, “uma coligação notável de ambientalistas, organizações da indústria e grupos de empresários – incluindo mais de 50 Câmaras de Comércio, produtores da indústria transformadora, de geradores, advogados das indústrias do petróleo e do gás e outros conseguiu suster o encerramento das renováveis no Texas”.
Do ponto de vista da monitorização da transição energética em curso, o exemplo do Texas é, em meu entender, particularmente apelativo. Num estado em que os interesses ligados ao petróleo e às energias fósseis jogam a descoberto no sentido de suster a revolução renovável, os resultados alcançados em termos de uma lógica de mercado que se contrapõe a tais interesses são particularmente relevantes. Sublinhe-se que a ofensiva legal dos interesses fósseis acontece com evidência segura de que as renováveis conseguiram reduzir a despesa energética do Estado em cerca de 11 milhares de milhões de dólares e que cerca de 100.000 novos empregos estão a ser criados nas atividades verde. E os resultados de mercado são bastante convincentes: a energia eólica apresenta-se com reduções de preços de cerca de 45% face ao gás e a solar com redução de cerca de 33% de preço face ao mesmo elemento de confronto.
Por tudo isto, a evolução observada no estado do Texas é tão relevante para compreender os caminhos sinuosos da transição energética. Os interesses fósseis podem estar em dificuldades apesar da sua influência no poder político do Estado. Mas o mercado tem muita força e os ventos parecem estar a mudar a favor das renováveis. Até no Texas, o que é obra.
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