segunda-feira, 12 de junho de 2023

DESASTRES COM CULPAS

O mundo de hoje é farto em incidentes tão inconcebíveis quanto desgraçadamente calamitosos. Embora não pretendamos, obviamente, que este espaço deles se ocupe para simplesmente dar notícia ou fazer análises circunstanciadas, há por vezes situações que nos impõem o recurso a um direito à exceção, designadamente por forma a daqui lançarmos gritos incontidos de revolta. Um primeiro tem a ver com modos de vida e organização das nossas sociedades, respeitando aos brutais incêndios nas florestas do Quebeque (Canadá) que já destruíram uma área superior à da Bélgica e espalham a sua toxicidade para paragens relativamente afastadas como Nova Iorque (foto acima) ou significativamente longínquas como as que se estendem por cima do Atlântico e já alcançam a Noruega no horizonte ― entre a premente necessidade de se encontrarem formas eficazes de preservar o ambiente e de combater as mudanças climáticas, denunciando negacionistas e torpedeando negociantes sem escrúpulos, tanto que está por sensibilizar e modificar!

(Andrés Rábago García, “El Roto”, http://elpais.com) 

Um segundo é o caso da semana, esse drama ocorrido no sul de França em que um jovem homem sírio (ao que parece afetado por vários reveses administrativos de imigração e decerto profundamente perturbado do ponto de vista psicológico) atacou e feriu gravemente crianças (e alguns adultos) num parque em que descansadamente brincavam. Querendo crer que a “banalidade do mal” e a perversidade do género humano farão parte mas não bastarão para explicar a ocorrência, ficam no ar questões de natureza aparentemente mais prosaica e que, sendo complexas, não poderão  servir de desculpa para que nos fiquemos por meras lamentações e reclamações de justiça ― há, de facto, algo a abordar com decência e frontalidade (nomeadamente, por oposição ao incrível e bem remunerado tampão turco) em matérias relacionadas com o avassalador e crescente número de refugiados que chega às fronteiras europeias! Assim como em tantos outros episódios (vejam-se os barcos dos migrantes africanos no Mediterrâneo, por exemplo) a que vamos assistindo ao longo dos anos do alto de uma impotência covarde que apenas ajuda a alimentar o império de um certo mainstream e de uma realpolitik cinicamente desligada nas políticas europeias ― para o comprovar, aí está agora a aprovação de uma nova política das migrações, desta vez ainda mais recuada porque largamente guiada por uma acomodação de cedências às imposições da emergente signora Giorgia Meloni...

 


(Jean Plantu, https://twitter.com)

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