Esperemos que este início de 2014, húmido e
chuvoso, não tenha nada de simbólico sobre o que nos reserva.
Tempo para abafos e para alguma reflexão
prospetiva sobre quais serão os temas-chave para 2014, começando pela economia
e, face à pequena dimensão que projetamos, pelo que do ponto de vista europeu
valerá a pena acompanhar de perto. Por mais criatividade que a alternativa
interna de governação possa desenvolver e por mais mercados emergentes que possamos
conquistar, ela terá sempre de interagir com a envolvente europeia e com as
suas soluções.
Ora, nesta matéria, a União Europeia está hoje
surpreendentemente mais próxima do tema da estagnação secular do que a própria
economia americana em função do qual Lawrence Summers forjou tal conceito, que
haveria de provocar imensas réplicas positivas sobre a sua credibilidade. De
facto, tal como Gavyn Davies no Financial Times referia no fim do ano, a Europa oscila hoje entre o espectro da “estagnação
secular” e da “japanização”, com a agravante de pelas bandas de Bruxelas não se
vislumbrar qualquer sucedâneo de “Abeconomics”
(a política de estímulos fiscais com que o Japão procura desesperadamente escapar
às teias da deflação).
Mesmo que os sinais de deflação europeia não
constituam alerta decisivo, convém não esquecer o aviso de Mario Draghi segundo
o qual a União Europeia corre o risco de estacionar com um nível de inflação
abaixo de 1%. Ora há aqui qualquer coisa que não bate certo, pois a política do
BCE continua a pautar-se por querer manter uma taxa de inflação abaixo mas
muito perto dos 2%.
Certamente que a União Europeia enfrenta
problemas estruturais sérios de que a perda de energia demográfica, uma ainda
insuficiente conexão entre a investigação e o desenvolvimento tecnológico e o
investimento empresarial, os desequilíbrios entre países credores (excedentários)
e devedores (deficitários) e sobretudo a não solidez de construção do projeto
do Euro (por mais remendos que estejam a ser ensaiados) são peças chave de um
puzzle complexo. Mas as limitações estatutárias do BCE para combater o espectro
do “zero lower bound”, pelo menos
quando comparado com a maior bateria de instrumentos do Federal Reserve Bank
dos EUA, do Banco do Japão e até do Banco de Inglaterra, constituem um fator
extremamente condicionador. Tanto mais que a Comissão Europeia se debate com
uma confrangedora anomia em tempos de mudança de corpos relevantes, cada vez
mais segmentada e vertical.
Por ironia do destino, a Grécia inicia hoje a
Presidência europeia em condições particularmente dramáticas.
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