sexta-feira, 29 de maio de 2015

A FALTA DE RIGOR E O ESTADO SOCIAL EUROPEU




(Comentadores pouco exigentes)

Correu por aí, esta semana, algum argumentário que pretendia demonstrar a insustentabilidade do modelo social europeu, mas que, o que não equivale a rejeitar essa discussão, decorre de uma confrangedora falta de rigor. Entre outros espaços em que tal matéria teve eco conta-se o aborrecido e politicamente correto Pares da República na TSF, onde apenas de vez em quando Maria de Lurdes Rodrigues dá um ar da sua graça.

O argumento é o seguinte. Representando a União Europeia uma quota da produção mundial que tem oscilado em torno dos 20% do produto mundial, o facto das despesas sociais do modelo social europeu representarem uma quota bem mais elevada da despesa social mundial isso representaria um indicador de insustentabilidade. Mas que ideia peregrina. Como bem se compreende, há um conjunto de economias emergentes que têm aumentado inequivocamente a sua quota na produção mundial e que se caracterizam por estados sociais deploráveis, o que conduz obviamente a uma quota elevada das despesas sociais do estado social europeu. Utilizar este argumento como justificação da insustentabilidade do modelo europeu e consequentemente da necessidade de o desmantelar para se ajustar ao pretenso equilíbrio mundial só lembraria a um vendedor de banha de cobra.

O problema da sustentabilidade do modelo social europeu deve antes ser discutido noutros planos bem mais complexos, como por exemplo se a população europeia está social e politicamente em condições de sustentar uma fiscalidade progressiva que garanta as receitas públicas necessárias ao financiamento do Estado Social. Se, além disso, a preservação do modelo social é ou não compatível com a introdução de soluções organizativas capazes de assegurar níveis de eficiência mais elevados. Ou se, para alguns domínios, a sua defesa não passará por estabelecimento de condições “means tested”, isto é sujeitos a comprovação de recursos. E se, por fim, a Europa está suficientemente preparada para acomodar os fortes impactos do envelhecimento na despesa pública social. O mero esgrimir das diferenças de quota mundial da produção e da despesa social veiculadas pela União Europeia é demasiado mau e pouco rigoroso para ascender a comentário, mesmo que para eleitor medianamente letrado. Há gente que respira falta de rigor e ainda é paga por isso. Sorte a deles e pouca exigência de quem lhes paga.

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