sábado, 23 de maio de 2015

INCUMPRIDORES, PENHORES E ESTABILIZADORES

(a partir de http://www.tvi.iol.pt)

(Luís Afonso, “Bartoon”, http://www.publico.pt)

Todos os dias a cada vez mais refinada propaganda governamental enche a cabeça dos portugueses com o magnífico balanço que propõe desta legislatura em agonizante acabamento. E o primeiro-ministro, após aquela sua memorável charge em torno dos remédios que não importa que saibam a óleo de fígado de bacalhau (ou a qualquer outro mau sabor), voltou ontem a mostrar-nos a sua convencidérrima faceta de predestinado através de uma doutrinação ideológica que vai refinando com o passar do tempo no lugar e em que integra como peça central a defesa do caráter necessário, higienizante e inescapável do ajustamento empobrecedor que impôs ao País sob a maviosa inspiração do seu guru Vítor Gaspar.

Ouçamo-lo: “O que nós queremos é poder viver de acordo com um standard, com um estilo de vida que consideramos adequado a um país que seja um país de progresso e prosperidade. Nós comparámo-nos evidentemente com as nações de maior prosperidade no mundo e felizmente que é assim – Portugal vive no primeiro mundo. Apesar das imensas dificuldades por que passamos, nós somos considerados como países ricos no mundo. Mas convém que cuidemos todos os dias de gerar as condições para poder mantermo-nos nesse pódio. (...) A má notícia é que nós não estamos condenados a ser prósperos. A boa notícia é que isso depende em boa parte de nós. Mas isso não se consegue em quaisquer circunstâncias – as coisas têm um determinado preço, têm um determinado custo. E se lhes atribuímos um valor muito grande, então devemo-nos esforçar muito para o poder alcançar.” Custe o que custar, bem entendido, em termos dos efeitos secundários que possam produzir-se – como o ilustram o crescente nível de incumprimentos que se vai registando em Portugal e as consequentes penhoras (concretizáveis às vezes e impossíveis por ausência de bens a tal assacáveis em 132 mil casos de cidadãos nacionais) e como tão divertidamente parodiava o “Inimigo Público” de ontem.


Termino com o devido registo à qualidade, verdadeiramente incomentável, da preparação de Passos em matéria económica. Ora veja-se: “É isto que nós procuramos fazer em Portugal, defender uma sociedade que seja próspera, que possa ter aquilo a que os economistas chamam os estabilizadores automáticos, quer dizer, ter uma Estado social que proteja os cidadãos, que evite que alguém tenha de encarar a sua vida com um acidente ou um azar que o impeça de viver sem dignidade.” Estabilizadores automáticos pois então, e porque não?

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