segunda-feira, 25 de maio de 2015

CRÍTICA PODEROSA DE UMA BIOGRAFIA DE MAU GOSTO TALVEZ INTENCIONAL




(Será legítimo escrever-se sobre algo que não se leu?)

Não tenciono queimar pestanas e gastar o meu cada vez mais precioso tempo (face aos custos de oportunidade de ler uma coisa e não outra) a ler a biografia autorizada de Passos Coelho de autoria da jornalista Sofia Aureliano. Face a esta impossibilidade assumida, interroguei-me se faria sentido escrever sobre tal peça.

Escrevo porque o meu objeto não é a biografia propriamente dita, mas a contundente peça que Rui Cardoso Martins (RCM) escreveu sobre a dita na Revista 2 do Público de ontem. O autor da peça cavalga uma tese que me parece extremamente aliciante e que a ser consistente explicaria parte do desconchavo de alguns pronunciamentos públicos de Passos Coelho, a aparente contradição entre a inconsistência de alguns desses pronunciamentos e a agressividade consistente das aparições no Parlamento, embora aqui largamente potenciadas por um desajeitado líder da bancada parlamentar do PS que lhe tem aberto uma passadeira rosa-encarnada às suas performances.

Segundo RCM, o mau gosto intencional da biografia (recorda-se o epíteto de possidónia de José Pacheco Pereira) insere-se num propósito deliberado de construção de uma imagem, do homem que diz sempre o que pensa, a partir de um olhar de Massamá contra os poderosos da linha e de outras linhas, numa pretensa proximidade e identificação ao homem comum, embora paradoxalmente penalize este homem comum com a sua insensibilidade social. A sensibilidade social de Passos Coelho seria de outra natureza, de partilha de símbolos, consumos e valores. E nesta cruzada inserir-se-ia a surpreendente abertura da sua vida privada, inclusivamente a da doença da sua mulher que outros jornalistas julgaram ter sido pactada tacitamente com o primeiro-ministro.

A intuição de RCM parece-me poderosa. É consistente com o padrão de aparecimentos, desconchavos e presenças mais consistentes de Passos Coelho. Convirá monitorizar o que pensam os Portugueses disto, não sabendo nós que categoria sociológica melhor descreve estes Portugueses.

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