sexta-feira, 8 de maio de 2015

BRITISH ILAÇÕES (III)




A democracia é sempre em última instância uma fonte que proporciona soluções e que gera novos problemas. A vitória estrondosa de Cameron-Osborne, dupla que se mantém no novo executivo conservador, vai na minha interpretação transportar para o interior dos Tories algumas clivagens que até aqui se projetavam na luta interpartidária.

Vejamos. O Labour e os LibDem tão cedo não vão recuperar do abalo telúrico sofrido. Os primeiros não perderam apenas para os nacionalistas escoceses, te do sido praticamente varridos desse território. A resposta à chantagem conservadora de que estava em causa a unidade do Reino Unido valeu-lhes serem varridos da representação dos interesses escoceses. Mas certamente perderam eleitorado para os conservadores, o que a ser verdadeiro não é fácil de explicar sociologicamente. Quanto aos LibDem pagam o preço de uma coligação em que ficou claro para todos que não influenciaram de modo que se visse. Ambos os partidos irão entrar numa longa letargia e de representação de interesses estamos aviados. A principal interrogação é o UKIP. Por dados soltos que recolhi, o UKIP é talvez o partido mais penalizado pelo desvio de pesos entre votos recebidos e lugares ganhos. Quando muito poderá dizer-se que o fenómeno UKIP está contido, mas não diria adormecido.

Assim sendo, será no interior do Partido Conservador que vão emergir as novas clivagens. Como vai Cameron gerir a promessa de maior autonomia para a Escócia sem abrir a mesma possibilidade à Inglaterra e provavelmente abrir caminho aos rumos incertos de uma Federação? Como vai Cameron gerir a sua poderosa ala direita, mesmo não sabendo que tradução isso tem nos assentos parlamentares? Como vai Cameron gerir o abrandamento da austeridade nesse contexto de equilíbrio com a sua ala direita? Que projeto tem Cameron para focar o principal problema da economia britânica, a produtividade?

Por tudo isto, vamos na minha interpretação assistir a uma endogeneização das clivagens da sociedade britânica para o interior dos Tories. Quem diria?

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