terça-feira, 26 de maio de 2015

AINDA O PROGRAMA DO PS E A COMPETITIVIDADE




(Um programa de leituras suscitado por um comentário amigo)

Um comentário amigo e pertinente do também amigo e sempre clarividente Guilherme Costa obriga-me a repensar as minhas observações sobre as limitações do programa do PS, enquanto programa social-democrata, quanto à competitividade empresarial. Embora esse comentário exija por certo uma conversa mais longa, pareceu-me relevante anotar aqui o seu sentido, sobretudo por uma questão de abertura sólida e sem falsas limitações do debate aqui iniciado.

A tese que expus nesse post apontava, sobretudo no quadro de uma programação de Fundos Estruturais para as empresas já praticamente delineada para o período 2015-2020 e de uma forte relevância dos instrumentos de política pública de inovação e internacionalização das empresas, para o evidenciar das limitações que o programa do PS apresentava nessa matéria e por razões lógicas que pretendi identificar. O comentário que me chega do Guilherme Costa aponta para a necessidade de um programa de leituras de suporte ao trabalho neste blogue que terá de desenvolver-se nos próximos tempos sempre com as vicissitudes do tempo disponível para o fazer, não perdendo o contacto com os leitores. Das referências implícitas no comentário, apenas me sinto relativamente confortável com os contributos de Carlota Perez e Mariana Mazzucato, pelo que outras leituras se terão de perfilar na pilha habitual dos textos a incorporar.

Mas o comentário que inspira este post é por si só estimulante porque considera, ao contrário da minha mensagem, que os programas de inspiração social-democrata dispõem nas políticas de competitividade empresarial de graus de liberdade, sobretudo se a competitividade for abordada numa perspetiva mais institucional, envolvendo questões de governance, qualidade de gestão empresarial e de reformulação das condições de financiamento das empresas. Pelo lamiré bibliográfico transmitido pelo Guilherme Costa (John Kray no Financial Times, Andrew Haldane e William Lazonick), sobretudo de John Kray estaremos a falar de uma tentativa de conceptualização da empresa como principal unidade de funcionamento das economias de mercado em que os programas da social-democracia se têm que situar, para as quais é necessário recuperar uma perspetiva mais abrangente de defesa da totalidade dos interesses plasmados na empresa (detentores do capital, gestores, trabalhadores, capacidade de produção de bens e serviços que respondam a necessidades sociais, etc.).

O tema é aliciante e pelo primeiro lamiré atrever-me-ia a considerar que a minha interpretação corresponderia a um plano de intervenção de curto-médio prazo a pensar nas eleições de início de outubro (elas estão aí e talvez apimentem as férias) e o comentário e a literatura apontam para uma lógica de intervenção política a mais longo prazo, com o tempo de maturação necessária para gerar a consolidação de pensamento e sobretudo de medidas legislativas e de política para o conseguir, não esquecendo o terreno da concertação social como o sublinhei no post anterior. Por aqui se explicariam as limitações por mim referidas e as margens de manobra de uma política alternativa sugeridas sobretudo pelo texto de Kay no Financial Times.

Tudo que seja possível construir para uma governação alternativa que não ofusque o lugar central da empresa, mesmo que reformulada nos seus objetivos e cobertura de interesses representados, terá neste blogue o destaque que os nossos conhecimentos o permitirem. E nunca é tarde para investir em novo conhecimento.

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