(Um programa
de leituras suscitado por um comentário amigo)
Um comentário amigo e pertinente do também amigo e sempre clarividente
Guilherme Costa obriga-me a repensar as minhas observações sobre as limitações
do programa do PS, enquanto programa social-democrata, quanto à competitividade
empresarial. Embora esse comentário exija por certo uma conversa mais longa,
pareceu-me relevante anotar aqui o seu sentido, sobretudo por uma questão de
abertura sólida e sem falsas limitações do debate aqui iniciado.
A tese que expus nesse post
apontava, sobretudo no quadro de uma programação de Fundos Estruturais para as empresas
já praticamente delineada para o período 2015-2020 e de uma forte relevância
dos instrumentos de política pública de inovação e internacionalização das
empresas, para o evidenciar das limitações que o programa do PS apresentava
nessa matéria e por razões lógicas que pretendi identificar. O comentário que
me chega do Guilherme Costa aponta para a necessidade de um programa de
leituras de suporte ao trabalho neste blogue que terá de desenvolver-se nos próximos
tempos sempre com as vicissitudes do tempo disponível para o fazer, não
perdendo o contacto com os leitores. Das referências implícitas no comentário,
apenas me sinto relativamente confortável com os contributos de Carlota Perez e
Mariana Mazzucato, pelo que outras leituras se terão de perfilar na pilha
habitual dos textos a incorporar.
Mas o comentário que inspira este post é por si só estimulante porque
considera, ao contrário da minha mensagem, que os programas de inspiração social-democrata
dispõem nas políticas de competitividade empresarial de graus de liberdade,
sobretudo se a competitividade for abordada numa perspetiva mais institucional,
envolvendo questões de governance, qualidade
de gestão empresarial e de reformulação das condições de financiamento das
empresas. Pelo lamiré bibliográfico transmitido pelo Guilherme Costa (John Kray
no Financial Times, Andrew Haldane e William Lazonick), sobretudo de John Kray
estaremos a falar de uma tentativa de conceptualização da empresa como
principal unidade de funcionamento das economias de mercado em que os programas
da social-democracia se têm que situar, para as quais é necessário recuperar
uma perspetiva mais abrangente de defesa da totalidade dos interesses plasmados
na empresa (detentores do capital, gestores, trabalhadores, capacidade de
produção de bens e serviços que respondam a necessidades sociais, etc.).
O tema é aliciante e pelo primeiro lamiré atrever-me-ia a considerar que a
minha interpretação corresponderia a um plano de intervenção de curto-médio
prazo a pensar nas eleições de início de outubro (elas estão aí e talvez
apimentem as férias) e o comentário e a literatura apontam para uma lógica de
intervenção política a mais longo prazo, com o tempo de maturação necessária
para gerar a consolidação de pensamento e sobretudo de medidas legislativas e
de política para o conseguir, não esquecendo o terreno da concertação social
como o sublinhei no post anterior. Por aqui se explicariam as limitações por
mim referidas e as margens de manobra de uma política alternativa sugeridas
sobretudo pelo texto de Kay no Financial Times.
Tudo que seja possível construir para uma governação alternativa que não
ofusque o lugar central da empresa, mesmo que reformulada nos seus objetivos e
cobertura de interesses representados, terá neste blogue o destaque que os
nossos conhecimentos o permitirem. E nunca é tarde para investir em novo
conhecimento.
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