Fim de tarde abafado na cidade do Porto, Rivoli cheio q.b. de umas mil pessoas, sobretudo de uma “fauna” cada vez menos habituée nestas andanças (mais velhos que novos, muitas senhoras indefiníveis, uma dominante de frequentadores de espaços e espetáculos culturais, mais gente de fora dos partidos do que do PS, uma certa ambiência de pintassilguismo revisitado), um palco com piano e uma voz feminina, Sampaio da Nóvoa a apresentar a seu modo os seus compromissos de candidatura.
O Porto que nunca deixou de impor a sua marca na história de Portugal pode e tem obrigação de fazer melhor – a enquadrar o apoiante mais especial, António Ramalho Eanes, alguns ex-chefes militares e o pai Nóvoa apenas uns poucos de notáveis, como Alberto Amaral, Alexandre Alves Costa, Alexandre Quintanilha, Augusto Santos Silva, Elisa Ferreira, Fernando Aguiar Branco, Luís Braga da Cruz, Manuel Correia Fernandes, Ricardo Magalhães ou Rui Aguiar. Já o PS continua igual a si próprio, calculista e desligado do que não cheire a sangue ou a poder à séria, desta vez com honrosas exceções como as mais visíveis do secretário-geral da JS, do presidente da Concelhia Local Tiago Barbosa Ribeiro ou dos ex-ministro e ex-presidente da Câmara Municipal de Santo Tirso, Santos Silva e Castro Fernandes.
Nóvoa interveio de improviso para dar conta dos cinco compromissos essenciais da sua “Carta de Princípios”: promoção de uma nova visão geoestratégica de Portugal; empenho na construção europeia, mas por uma Europa que recupere os valores da solidariedade e da justiça social; definição de uma estratégia de valorização do conhecimento dos jovens e medidas que permitam injetar vitalidade na economia e na criação de riqueza; luta pelo Estado social, contra a pobreza e as desigualdades; garantia do normal funcionamento das instituições democráticas, agindo com total independência face a forças políticas, sociais ou económicas.
O candidato foi ainda muito crítico da “austeridade” e do sufoco da dívida que têm conduzido “ao nosso empobrecimento” e de um Estado “tão zeloso com as obrigações externas” e tão “pouco atento aos portugueses mais pobres”. Como da forma instalada de fazer política – “serei prudente e rigoroso no uso dos poderes presidenciais, mas não farei da omissão um estilo, nem da ausência um método, nem do silêncio um resguardo” e “a política não serve para justificar inevitabilidades, para se conformar com a fatalidade, serve para dar o exemplo, para abrir caminhos”. Disse ainda que promoveria um amplo debate sobre Europa e que não aceitaria “mais medidas que retirem soberania a Portugal sem a realização de um referendo”. E ironizou com quem o acusa de valorizar a poesia e de dar excessiva importância à palavra, referindo-se incapaz de vir ao Porto sem lembrar Eugénio de Andrade e “essa inabilidade para o mundo do lucro e da usura”.
E após ter declarado estar perfeitamente consciente de que terá de pagar o preço da sua independência, Nóvoa terminou o seu discurso referenciando “este ‘nós’ que quero construir durante a campanha” e apelando a que “não deixemos que a esperança também emigre”. Conseguirá ele de algum modo agitar um povo conformado e maioritariamente adormecido?
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