quarta-feira, 13 de maio de 2015

PASSAGENS DO TEMPO (II)



Sou muito indisciplinado e por isso não sei se serei capaz de manter esta espécie de subrubrica neste blogue, dedicada à usura do tempo nos rostos e imagem dos que giram na órbita dos nossos afetos, fixações, fetiches, adorações, manias ou paranoias, que iniciei com a figura de Françoise Hardy.

A segunda versão ocorreu-me hoje ao folhear o El Pais on line, cruzando-me com um artigo de Elvira Lindo sobre uma das minhas divas, que atravessa a passadeira vermelha da inauguração do festival de Cannes, Catherine Deneuve, 71 anos de vida, com uma afirmação surpreendente de que a proliferação de telemóveis e câmaras digitais acabou com o que restava da magia das estrelas. As selfies acabaramcom o glamour de outras épocas, terásentenciado Deneuve. E a jornalista acrescenta: “Mas não são apenas as selfies que acabarão com as musas. Também estão a trabalhar para isso os desenhadores de moda que as vestem como se fossem assistentes de um mágico ou patinadoras, com esses brilhos apropriados apenas para quem procura distinguir-se fazendo piruetas na pista. Contribuem também as televisões que converteram as atrizes em agentes descarados de marcas que vestem ou de jóias que usam. E que só se focam em rabos. O rabo com pompa de Kardashian arrasa, enche o écran e a vista. Estou com Deneuve. Isto está a decompor-se.”

 (Deneuve, no New York Times)

Não pude deixar de me fixar na imagem de Deneuve que se perfila por detrás da minha cadeira de trabalho, no escritório, fotografada por Avedon, numa fotografia intemporal, que preserva a Catherine da usura do tempo. E perdi-me por alguns momentos na travessia do tempo através da transformação da Diva, que há bem pouco foi fotografada para o New York Times, parecendo que o tempo não passou. Pelo sim, pelo não, Avedon fixou-a para sempre e isso basta. Não consegui registos dessa fotografia que foi retirada de uma revista de fotografia  única que circulava em França, a Égoiste, e por isso tive de recorrer a uma outra de Avedon, mas que não é tão intemporal como a que presencia todos os dias a natureza dolorida da minha produção de consultor.

 (Deneuve por Richard Avedon)
(Aos 18 anos nos Parapluies de Cherbourg)

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