domingo, 17 de maio de 2015

HANS MAGNUS ENZENSBERGER NO BABELIA




Dos pensadores e filósofos ainda vivos, para além de Habermas, Hans Magnus Enzensberger, também alemão, é um dos que vale a pena continuar a seguir.

O BABELIA, suplemento cultural do El País dos sábados, publicava ontem uma excelente entrevista de Juan Cruz ao pensador de 87 anos.

Cito duas respostas para estimular os nossos leitores a mergulhar na entrevista:

Pergunta
O Senhor Z (protagonista da última obra de Enzensberger) reflete sobre política. E cita Montaigne: “Deveríamos deixar a política nas mãos dos mais robustos e menos propensos à dúvida que de boa fé sacrificam a honra e a sua consciência por ela”. Isto era o pensamento de Montaigne e o do senhor Z: e o seu qual é?”
Resposta
Porque é que nos ocupamos da política? Não o fazemos por gosto,porque é aborrecido, fazemo-lo apenas por autodefesa. E os que a fazem sentem seguramente que a política lhes dá vigor, segrega uma espécie de serotonina. Olhe para a pobrezita Merkel, viajando de país em país, com noites sem dormir. Ela gosta disso, apaixona-a. Pela serotonina. Para ela é sublime. É algo de similar ao que é segregado em certo tipo de desportos, como por exemplo a maratona. A maratona é uma tortura, mas é apreciada por muitos, como os saltos na neve, 300 metros no abismo. Uma tortura, mas pelo que parece uma tortura esquisita.”

Pergunta
Mas se os políticos apreciam tanto o risco poderia pensar-se que no fim de contas também são suicidas …”
Resposta
Depende do seu grau de megalomania. Por exemplo, nos casos de Napoleão e de Hitler a megalomania é mais forte do que eles. Realmente não podem parar, não podem retirar-se, necessitam de dominar o mundo inteiro. Gente que se julga capaz de dominar toda a humanidade, que o planeta dependa deles. Estão alienados, continuam até à autodestruição: um acaba sozinho em Santa Helena e o outro mata-se com uma bala em Berlim”.

Fecho com as últimas estrofes do primeiro canto do Afundamento do Titanic um poema célebre de Enzensberger, que só consegui encontrar em castelhano:

“El agua corre
hacia las escotillas.
Emergiendo treinta metros,

el iceberg pasa silencioso,
se desliza junto al barco resplandeciente,
y se pierde en la oscuridad. “

Uma alegoria dos nossos tempos?

Sem comentários:

Enviar um comentário