Dos pensadores e filósofos ainda vivos, para além de Habermas, Hans Magnus
Enzensberger, também alemão, é um dos que vale a pena continuar a seguir.
O BABELIA, suplemento cultural do El País dos sábados, publicava ontem uma
excelente entrevista de Juan Cruz ao pensador de 87 anos.
Cito duas respostas para estimular os nossos leitores a mergulhar na entrevista:
Pergunta
“O
Senhor Z (protagonista da última obra de Enzensberger) reflete sobre política. E
cita Montaigne: “Deveríamos deixar a política nas mãos dos mais robustos e
menos propensos à dúvida que de boa fé sacrificam a honra e a sua consciência
por ela”. Isto era o pensamento de Montaigne e o do senhor Z: e o seu qual é?”
Resposta
“Porque é que nos ocupamos da política? Não o fazemos por
gosto,porque é aborrecido, fazemo-lo apenas por autodefesa. E os que a fazem
sentem seguramente que a política lhes dá vigor, segrega uma espécie de
serotonina. Olhe para a pobrezita Merkel, viajando de país em país, com noites
sem dormir. Ela gosta disso, apaixona-a. Pela serotonina. Para ela é sublime. É
algo de similar ao que é segregado em certo tipo de desportos, como por exemplo
a maratona. A maratona é uma tortura, mas é apreciada por muitos, como os
saltos na neve, 300 metros no abismo. Uma tortura, mas pelo que parece uma
tortura esquisita.”
Pergunta
“Mas se
os políticos apreciam tanto o risco poderia pensar-se que no fim de contas também
são suicidas …”
Resposta
“Depende do seu grau de megalomania. Por exemplo, nos casos
de Napoleão e de Hitler a megalomania é mais forte do que eles. Realmente não
podem parar, não podem retirar-se, necessitam de dominar o mundo inteiro. Gente
que se julga capaz de dominar toda a humanidade, que o planeta dependa deles. Estão
alienados, continuam até à autodestruição: um acaba sozinho em Santa Helena e o
outro mata-se com uma bala em Berlim”.
Fecho com as últimas estrofes do primeiro canto do Afundamento do Titanic um
poema célebre de Enzensberger, que só consegui encontrar em castelhano:
“El agua corre
hacia las escotillas.
Emergiendo treinta metros,
el iceberg pasa silencioso,
se desliza junto al barco resplandeciente,
y se pierde en la oscuridad. “
Uma alegoria dos nossos tempos?
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