terça-feira, 12 de maio de 2015

CONVERGÊNCIA MUNDIAL? NEM VÊ-LA!




Charles I. Jones publicou por estes dias no National Bureau of Economic Research um longo artigo que antecipa o capítulo do novo Handbook of Growth Economics, que fixará por alguns tempos o estado da arte da teoria do crescimento económico e das principais evidências mundiais que devem inspirar a teoria. Em linguagem mais técnica, chamamos nós a essas evidências os factos estilizados do crescimento económico, digamos as principais regularidades que qualquer modelo explicativo deve conseguir explicar.

O artigo merecerá outras referências em tempos próximos pelo que me limito hoje a destacar duas evidências com que vale a pena conviver e meditar e sobre elas.

A primeira evidência diz respeito ao tema da convergência entre nações. Em termos não muito técnicos, diremos que um processo de convergência absoluta entre nações acontece quando para um dado período, as economias que no início desse período tinham em média um desenvolvimento económico mais baixo cresceram nesse período a taxas mais elevadas do que as que eram mais ricas no início desse mesmo período. Em situação contrária, teremos um processo de divergência absoluta. Em situação de convergência absoluta, a situação mundial é descrita por uma nuvem de pontos (de pares de valores de taxas de crescimento e de nível inicial de desenvolvimento económico) que deve apresentar um comportamento descendente, isto é, descrita aproximadamente por uma reta descendente da esquerda para a direita.

O gráfico que abre este post apresenta no eixo das ordenadas as taxas de crescimento económico médio anual no período 1960-2011 e no eixo das abcissas o nível de desenvolvimento económico dos países em percentagem do dos EUA (EUA =1). A nuvem descrita nem por sombras se identifica com um processo de convergência absoluta. Ela não se verifica. Sem surpresa, o rendimento per capita dos países em 1960 aparece largamente correlacionado com o rendimento per capota dos mesmos países em 2011. Acresce que para universos mais pequenos e mais homogéneos continua a verificar-se a convergência absoluta. No gráfico inicial, os valores a vermelho (OCDE) representam uma situação de convergência. Em média, os países de mais baixo nível de desenvolvimento económico são os que mais crescem. Tudo como dantes ...

A segunda evidência prende-se com a decomposição do crescimento económico dos países em componentes que permite isolar o contributo do crescimento da produtividade total dos fatores para esse crescimento. A produtividade total dos fatores pretende medir os efeitos no crescimento decorrentes da boa alocação de recursos pela economia, numa lógica de melhorias de eficiência global que não se devem especificamente nem a melhorias de eficiência do trabalho, nem do capital. Desde os tempos do velho Solow, a produtividade total dos fatores pretende medir o contributo de fatores imateriais para o crescimento económico, tendo-se evoluído desde então na decomposição dessa produtividade global.

Os dados agora trabalhados por Jones confirmam que as diferenças de produtividade entre os países se devem essencialmente a diferenças de produtividade total dos fatores. A título ilustrativo, o Brasil apresentava no período considerado um produto por trabalhador que era apenas de 18,3% do americano. Pelos cálculos de Jones, não é a dotação em capital em percentagem do PIB que explica essa diferença. O Brasil apresenta até um valor de capital/produto superior ligeiramente ao dos EUA. As diferenças de capital medidas pelo nível de escolaridade da população são estimadas por Jones em 67,6% da dotação em capital humano dos EUA. Na produtividade total dos fatores, a diferença é mais abissal: apenas 25% dos EUA. As grandes regularidades parece que continuam a observar-se.

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