Charles I. Jones publicou por estes dias no National
Bureau of Economic Research um longo artigo que antecipa o capítulo
do novo Handbook of Growth Economics,
que fixará por alguns tempos o estado da arte da teoria do crescimento económico
e das principais evidências mundiais que devem inspirar a teoria. Em linguagem
mais técnica, chamamos nós a essas evidências os factos estilizados do
crescimento económico, digamos as principais regularidades que qualquer modelo
explicativo deve conseguir explicar.
O artigo merecerá outras referências em tempos próximos pelo que me limito
hoje a destacar duas evidências com que vale a pena conviver e meditar e sobre
elas.
A primeira evidência diz respeito ao tema da convergência entre nações. Em
termos não muito técnicos, diremos que um processo de convergência absoluta
entre nações acontece quando para um dado período, as economias que no início
desse período tinham em média um desenvolvimento económico mais baixo cresceram
nesse período a taxas mais elevadas do que as que eram mais ricas no início
desse mesmo período. Em situação contrária, teremos um processo de divergência
absoluta. Em situação de convergência absoluta, a situação mundial é descrita por
uma nuvem de pontos (de pares de valores de taxas de crescimento e de nível
inicial de desenvolvimento económico) que deve apresentar um comportamento
descendente, isto é, descrita aproximadamente por uma reta descendente da
esquerda para a direita.
O gráfico que abre este post apresenta no eixo das ordenadas as taxas de
crescimento económico médio anual no período 1960-2011 e no eixo das abcissas o
nível de desenvolvimento económico dos países em percentagem do dos EUA (EUA
=1). A nuvem descrita nem por sombras se identifica com um processo de convergência
absoluta. Ela não se verifica. Sem surpresa, o rendimento per capita dos países
em 1960 aparece largamente correlacionado com o rendimento per capota dos
mesmos países em 2011. Acresce que para universos mais pequenos e mais homogéneos continua a verificar-se a convergência absoluta. No gráfico inicial, os valores a vermelho (OCDE) representam uma situação de convergência. Em média, os países de mais baixo nível de desenvolvimento económico são os que mais crescem. Tudo como dantes ...
A segunda evidência prende-se com a decomposição do crescimento económico
dos países em componentes que permite isolar o contributo do crescimento da
produtividade total dos fatores para esse crescimento. A produtividade total
dos fatores pretende medir os efeitos no crescimento decorrentes da boa alocação
de recursos pela economia, numa lógica de melhorias de eficiência global que não
se devem especificamente nem a melhorias de eficiência do trabalho, nem do
capital. Desde os tempos do velho Solow, a produtividade total dos fatores
pretende medir o contributo de fatores imateriais para o crescimento económico,
tendo-se evoluído desde então na decomposição dessa produtividade global.
Os dados agora trabalhados por Jones confirmam que as diferenças de
produtividade entre os países se devem essencialmente a diferenças de
produtividade total dos fatores. A título ilustrativo, o Brasil apresentava no
período considerado um produto por trabalhador que era apenas de 18,3% do
americano. Pelos cálculos de Jones, não é a dotação em capital em percentagem
do PIB que explica essa diferença. O Brasil apresenta até um valor de capital/produto
superior ligeiramente ao dos EUA. As diferenças de capital medidas pelo nível
de escolaridade da população são estimadas por Jones em 67,6% da dotação em
capital humano dos EUA. Na produtividade total dos fatores, a diferença é mais
abissal: apenas 25% dos EUA. As grandes regularidades parece que continuam a
observar-se.
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