quarta-feira, 27 de maio de 2015

DESBOCAMENTOS ATABALHOADOS NA FAZENDA


Longe parecem ir os tempos não assim tão longínquos em que uma obediente e respeitadora funcionária servia os anteriores governos do PS e acompanhava quase impercetivelmente Sócrates e Teixeira dos Santos em alguns dos seus périplos europeus. Depois vieram Passos e Gaspar e ela lá foi vendo que, afinal, naquela “terra” o seu olho podia ser de rei/rainha. E quando Gaspar se fartou – ou arranjou coisa melhor para fazer –, a senhora percebeu que chegara a vez de levar a cabo a sua própria e definitiva metamorfose. Da discreta, zelosa e rigorosa técnica nasceu uma inesperada política, capaz das mais demagógicas, provocadoras e eficazes tiradas. Como falar assim do PS: “Ia a passar na estrada e vi um cartaz – eu acho que é do PS, ainda não tinha visto – onde falam em rigor. Achei extraordinário. Fala em rigor, o PS, enfim... sem comentários.”

Já quanto à essência da sua intervenção/mensagem deste fim de semana no distrito de Aveiro, a questão é de outro foro. Porque, das duas uma: ou “Isto” agora é que está a ficar bom, graças à patriótica obra da coligação que nos governa e que até já mandou a Troika para casa; ou “Isto” continua complicado, apesar da patriótica obra da coligação que nos governa e os cortes ainda não podem ser objeto de parança (parece que haverá mais uns 600 milhões a desbastar nas pensões).

Eis a sábia palavra produzida por Albuquerque na matéria: “É preferível, é honesto dizer aos portugueses: vai ser preciso fazer alguma coisa sobre as pensões para garantir a sustentabilidade da Segurança Social. E essa alguma coisa pode passar, se for essa a opção, por alguma redução, mesmo nos atuais pensionistas. Se isso for uma distribuição mais equilibrada e mais razoável do esforço. Que tem de ser distribuído entre todos, atuais pensionistas, futuros pensionistas, jovens a chegar ao mercado de trabalho. Se essa for a solução que garante um melhor equilíbrio na distribuição desse esforço, é aí que nos devemos focar. Fazer a promessa de que não fazemos nada para aqueles que já são pensionistas e que vamos fazendo tudo sobre os que lá chegarão no futuro é de uma enorme injustiça.”

E, no entanto, a questão tem sentido e merece uma discussão assente na seriedade técnica e intelectual. Sendo que o ministro da pasta, e alto responsável do CDS, já veio dizer que não há quaisquer propostas sobre a mesa, enfatizando embora um sempre útil “neste momento”. E que o PS parece ter-se deixado seduzir, antecipada e desnecessariamente, por um comprometimento outro extraído da pura elegância matemática dos modelos em desfavor de uma reflexão ponderada e aprofundada sobre o tema. E até a própria já veio dizer ontem que, afinal, só com um amplo consenso com o maior partido da oposição e na concertação social. Aqui chegados, claro fica quanto nestes próximos meses a relevante problemática da sustentabilidade da Segurança Social irá ser remetida ao triste e apagado lugar de uma mera e instrumental arma de arremesso político...

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