(Manuela Carmena -Ahora Madrid)
(Reflexões
sobre possíveis contaminações eleitorais)
Já aqui referi que a síntese de Iñaki Gabilondo me parece muito feliz para
descrever o que aconteceu, ou melhor, o que tem vindo a acontecer em Espanha:
problemas de potencial ingovernabilidade mas ar fresco da rua no cenário político.
Como é óbvio, os partidos que perderam resmas de votos (mais o PP mas também o
PS) tendem a desvalorizar a fragmentação política do poder local e de parte das
comunidades autónomas. Até o PS português, pela voz do comentário do cauteloso Eurico
Brilhante Dias, vem desvalorizar a interferência do PODEMOS, chamando a atenção
para uma evidência, que ninguém contesta, que esta força política tem vindo a
perder força sucessiva, sendo mesmo a nível de votos nacionais ultrapassado
pelo CIUDADANOS. É um ponto de vista, defensivo, que se compreende. Mas, mesmo
com uma expressão eleitoral em baixa, a verdade é que o PODEMOS morde mais nas
canelas do PP do que o PSOE e obriga a este a respaldar executivos, talvez em Barcelona,
Madrid e Valência, com gestação a partir de movimentos locais apoiados pela
mais recente força política espanhola. Ora, a evidência de que o PODEMOS morde
mais as canelas do sempre desajeitado Rajoy, que decididamente não está talhado
para grandes mobilizações, do que o PSOE tem um forte significado político. Podem
dizer-me que para efeito de legislativas, em novembro, os eleitores espanhóis
poderão votar com menos emoção e dar uma oportunidade de alternância ao PSOE. Pode
ser mas a minha intuição de que falta para tal uma dinâmica de confiança que não
existe, apesar do rejuvenescimento da liderança de Pedro Sánchez e do ensaio
aparentemente positivo de Susana Diáz na Andaluzia, ainda não investida não
esqueçamos por falta de uma maioria de apoio no parlamento andaluz. O legado
mais ou menos blairista de Zapatero não está apagado, algumas ramificações
locais do PSOE foram apanhadas também em casos de corrupção e, mais do que
tudo, a demora em compreender a insatisfação do eleitorado espanhol são fatores
que explicam esta aparente falta de confiança do eleitorado em abrir de novo o
caminho da governação ao PSOE. E a recuperação da economia espanhola, mesmo que
a tragédia do desemprego persista em novos atos, aguenta por um fio o
atarantado Rajoy que ainda deve ser visitado alta noite pelo fantasma Barcenas.
A pergunta inevitável é a de saber se tudo isto terá influência em
Portugal. Faltam de facto na Europa dinâmicas de vitória social-democrata que
corporizem uma onda de alternativas de governação mais expressiva e até a
primeira-ministra dinamarquesa vai a eleições com um panorama bem apertado de
vitória possível. E os ventos de Espanha não estão a ajudar.
Aparentemente, o eleitorado português não parece muito permeável a movimentos
de rebeldia como o do PODEMOS e do CIUDADANOS. Pelo menos as sondagens não
documentam qualquer tendência nesse sentido, Marinho Pinto parece afogar-se nas
suas próprias contradições e a esperança parece restar radicada em alguns
parlamentares do LIVRE e respetivas alianças. Dei comigo, entretanto, a pensar
o seguinte:
Será que os portugueses podem voltar-se para as Presidenciais para
expressar essa perspetiva anti-sistema? Poderá António Nóvoa capitalizar esse
posicionamento? O PS que se cuide.
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