quarta-feira, 27 de maio de 2015

DE ESPANHA, BONS OU MAUS VENTOS?

(Manuela Carmena -Ahora Madrid)


(Reflexões sobre possíveis contaminações eleitorais)

Já aqui referi que a síntese de Iñaki Gabilondo me parece muito feliz para descrever o que aconteceu, ou melhor, o que tem vindo a acontecer em Espanha: problemas de potencial ingovernabilidade mas ar fresco da rua no cenário político. Como é óbvio, os partidos que perderam resmas de votos (mais o PP mas também o PS) tendem a desvalorizar a fragmentação política do poder local e de parte das comunidades autónomas. Até o PS português, pela voz do comentário do cauteloso Eurico Brilhante Dias, vem desvalorizar a interferência do PODEMOS, chamando a atenção para uma evidência, que ninguém contesta, que esta força política tem vindo a perder força sucessiva, sendo mesmo a nível de votos nacionais ultrapassado pelo CIUDADANOS. É um ponto de vista, defensivo, que se compreende. Mas, mesmo com uma expressão eleitoral em baixa, a verdade é que o PODEMOS morde mais nas canelas do PP do que o PSOE e obriga a este a respaldar executivos, talvez em Barcelona, Madrid e Valência, com gestação a partir de movimentos locais apoiados pela mais recente força política espanhola. Ora, a evidência de que o PODEMOS morde mais as canelas do sempre desajeitado Rajoy, que decididamente não está talhado para grandes mobilizações, do que o PSOE tem um forte significado político. Podem dizer-me que para efeito de legislativas, em novembro, os eleitores espanhóis poderão votar com menos emoção e dar uma oportunidade de alternância ao PSOE. Pode ser mas a minha intuição de que falta para tal uma dinâmica de confiança que não existe, apesar do rejuvenescimento da liderança de Pedro Sánchez e do ensaio aparentemente positivo de Susana Diáz na Andaluzia, ainda não investida não esqueçamos por falta de uma maioria de apoio no parlamento andaluz. O legado mais ou menos blairista de Zapatero não está apagado, algumas ramificações locais do PSOE foram apanhadas também em casos de corrupção e, mais do que tudo, a demora em compreender a insatisfação do eleitorado espanhol são fatores que explicam esta aparente falta de confiança do eleitorado em abrir de novo o caminho da governação ao PSOE. E a recuperação da economia espanhola, mesmo que a tragédia do desemprego persista em novos atos, aguenta por um fio o atarantado Rajoy que ainda deve ser visitado alta noite pelo fantasma Barcenas.

A pergunta inevitável é a de saber se tudo isto terá influência em Portugal. Faltam de facto na Europa dinâmicas de vitória social-democrata que corporizem uma onda de alternativas de governação mais expressiva e até a primeira-ministra dinamarquesa vai a eleições com um panorama bem apertado de vitória possível. E os ventos de Espanha não estão a ajudar.

Aparentemente, o eleitorado português não parece muito permeável a movimentos de rebeldia como o do PODEMOS e do CIUDADANOS. Pelo menos as sondagens não documentam qualquer tendência nesse sentido, Marinho Pinto parece afogar-se nas suas próprias contradições e a esperança parece restar radicada em alguns parlamentares do LIVRE e respetivas alianças. Dei comigo, entretanto, a pensar o seguinte:

Será que os portugueses podem voltar-se para as Presidenciais para expressar essa perspetiva anti-sistema? Poderá António Nóvoa capitalizar esse posicionamento? O PS que se cuide.

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