sábado, 9 de maio de 2015

FUNICULÌ FUNICULÀ


Tem circulado por aí uma controvérsia um tanto ou quanto absurda em torno de uma infindável multiplicidade possível de exits no horizonte europeu. Os mais badalados, por potencialmente mais iminentes, são o “Grexit” e o “Brexit”, mas também já vai havendo quem fale de um “Frexit” (enquanto expressão máxima de uma alternativa, como seria igualmente a de um “Espexit” ou de um “Italex”, que passasse pelo abandono do Euro por países que se possam vir a considerar “prisioneiros” de uma moeda única que seja encarada como a verdadeira fonte de perigosidade para a União Europeia – estão mesmo disponíveis reflexões, como as de Jacques Sapir, e cálculos relativamente aprofundados de diversos economistas franceses sobre os eventuais custos de uma tal opção) e quem não se escuse a referências mais dirigidas aos riscos ou às vantagens associáveis a um impensável “Dexit”.

Centro-me naqueles dois primeiros cenários, presentemente reavivados pelo impasse das negociações greco-europeias e pelos resultados eleitorais britânicos. Um dos termos do debate em curso entre europeístas e especialistas na matéria é o de avaliar qual dos dois poderá ser mais gravoso para o futuro da Europa (o que quer que isso seja!). Podendo até acontecer que não venha a verificar-se nem um nem o outro ou que só venha a ocorrer um e não o outro, situações que tornariam qualquer comparação improcedente, a questão acaba por ter algum sentido em face do atual estado de coisas e é efetivamente suscetível de adquirir crescentes contornos de fundada polémica.

(Peter Brookes, http://www.thetimes.co.uk)

(Kipper Williams, http://www.guardian.co.uk)

Dentro de uma determinada perspetiva, poderá então defender-se que um “Brexit” corresponderia apenas à materialização concreta de algo que já é uma realidade há longo tempo – a participação do Reino Unido na União Europeia foi sempre objeto de disputas e mal entendidos e o seu alheamento em relação ao Euro terá sido o momento de irreversível rompimento –, ao passo que um “Grexit” arrastaria, a despeito do limitado peso da economia grega, componentes fundamentais de mudança na natureza da união monetária em construção.

Mas outras lógicas de análise são igualmente poderosas, como a que sustenta a definitiva incompletude de uma construção europeia que não mais contasse com a força, a influência e a diferença britânicas, considerando ao invés uma saída grega da Zona Euro um castigo merecido, um facto negligenciável, uma hipótese indesejável dentro de estreitos limites de concessões flexibilizadoras ou, até, uma oportunidade para o seu relançamento.

Poupo os leitores ao prolongamento deste tipo de considerações especulativas. Como seria o caso, por exemplo, daquela que limita o termo “Grexit” a uma saída ordenada da Grécia, diferenciando-a naturalmente de uma saída acidental decorrente de um incumprimento de obrigações por parte daquele país (“Grexident”). Sendo ainda que não existe um acordo claro quanto a uma forçosa correlação entre essa hipotética falência e uma inevitável saída do Euro – é toda a argumentação em torno de um default inside the Euro. Tanto mar...

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