Numa tarde que convidava a ar livre, respondi positivamente ao convite para
estar presente num dos painéis da iniciativa Educação – Valorizar as Pessoas,
centrado sobre a formação superior e sobre o que uma governação alternativa
liderada por António Costa poderá fazer de diferente em relação ao descalabro
da maioria.
O painel era simpático e prometia: Rosário Gambôa, Presidente do Instituto
Politécnico do Porto; José Mendes, Vice-reitor da Universidade do Minho; Pedro Teixeira,
Vice – Reitor da Universidade do Porto; Daniel Freitas, estudante, Presidente
da Federação Académica do Porto, lugar por onde já passou Fernando Medina hoje
Presidente da Câmara de Lisboa e este vosso servidor.
Organizei a minha intervenção na perspetiva de quem pensa o sistema de
formação superior a partir das relações entre educação e desenvolvimento,
sobretudo colocando a questão “o que é que a educação superior pode contribuir
para o processo de mudança estrutural da economia portuguesa, rompendo com arcaísmos
e fatores de subdesenvolvimento e para uma afirmação mais equilibrada no
contexto europeu”. Procurei mostrar que a formação superior tem de ser sempre
ambivalente, reativa e em linha com as necessidades reveladas de qualificações
expressas pelos indivíduos, pelas empresas e pelos sistemas públicos e
proativa, antecipando qualificações ainda não reveladas, profissões ainda não
inventadas e servindo a navegação profissional. E alertei para a necessidade de
uma governação alternativa contribuir para a erradicação de três mitos em torno
da educação superior: o mito da sobreducação, o mito que o sistema de ensino
superior é um sistema binário e que os problemas de financiamento do ensino
superior se resolvem apenas no quadro do orçamento do Ministério de Educação. Discuti
ainda o que parece ser uma corrente emergente em algumas economias avançadas
como a dos EUA de contrariar a formação excessivamente especializada em
contextos tecnológicos rapidamente obsoletos e abrindo caminho à combinação com
as velhas artes liberais, impulsionando a criatividade, a
transdisciplinaridade, a integração de conhecimentos, a flexibilidade
curricular.
E, no fundo, todos esperavam a intervenção em plenário final de António
Costa, que acabou por realizar uma das suas mais incisivas intervenções dos últimos
tempos, muito na linha do reacendimento da paixão da educação, com os vetores
de aposta no insucesso escolar, da formação de adultos e da educação superior,
sempre na linha da defesa da escola pública, dos valores da igualdade de
oportunidades, da valorização da cidadania e da absoluta necessidade de
pacificação das escolas, da destruição das baias burocráticas, da remotivação
de educadores e professores e da valorização da ciência numa sentida homenagem à
visão estratégica de Mariano Gago, que empolgou o auditório completamente cheio
do Conservatório de Música do Porto.
As hostes estavam animadas e um Costa confiante e empolgado pelo reacender da
paixão da educação deixou o auditório com alguma esperança. Temos homem.
Sem comentários:
Enviar um comentário