domingo, 24 de maio de 2015

GENTE DE POUCA CONFIANÇA




(A complexa relação entre os bancos centrais e os financeiros)

No início da semana passada, a imprensa financeira deu conta de um registo que não é uma simples circunstância e que nos dá que pensar sobre o paradigma da independência dos bancos centrais. A questão da independência dos bancos centrais é trivialmente discutida do ponto de vista das relações do banco central com o poder político e tende a ignorar o plano das relações com os players que operam nos mercados financeiros e de capitais.

Nos últimos tempos, há notícias de que o FED – USA está a ser investigado por cedência indevida de informação a uma firma de investimentos a Medley Global Advisors. No dia 18 de maio, ao fim da tarde em Londres, Benoît Coueré, em encontro privado, no Imperial College de Londres, com gestores de “Hedge Funds”, académicos e operadores financeiros, deixava cair a informação de que o BCE iria intensificar a compra extraordinária de títulos no mercado para compensar a desaceleração de aquisições no próximo verão. Esta informação seria publicada oficialmente pelo BCE apenas 12 horas depois. Como é previsível o comportamento do euro refletiu bem o facto de ao fim da tarde de 18 de maio (em vez de estar a festejar a capicua dos 66 poderia a estar a especular cambialmente) e só na manhã seguinte se ter alargado o conhecimento do facto.




O BCE publicou entretanto uma explicação esfarrapada do lapso de não ter sido publicada a informação oficial em termos simultâneos com a conferência de Coueré no Imperial College.

Desta trapalhada ou mais do que isso, retiro a conclusão de que a independência do Banco Central não pode ser apenas discutida do ponto de vista das suas relações com o poder político. As suas relações com o universo dos players financeiros necessita de ser melhor escrutinada.

O facto foi comentado pelo Financial Times (ver aqui) e no Bloomberg (ver aqui).  

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