quinta-feira, 21 de maio de 2015

CASAMENTOS, QUEJANDOS E DERIVADOS


Sobre o enorme sarilho demográfico em que coletivamente estamos metidos, portugueses e europeus aliás, já por aqui se falou algumas vezes. Tomando por base a mais recente atualização estatística do INE divulgada em finais de abril, procuro hoje elucidar empiricamente algumas tendências de médio prazo da demografia portuguesa que refletem visivelmente a espantosa dimensão das transformações observadas no último meio século em termos de costumes e modos de vida. Passo a ilustrar, limitando-me às mudanças dentro das categorias mais tradicionais, sem penetrar portanto em figuras como as do casamento homossexual, da monoparentalidade ou outras com impacto em mudanças mais profundas no conceito de família.

Comecemos pelo casamento, um contrato em clara perda de popularidade ao longo do período em análise – o número de casamentos celebrados atingiu, no ano passado, o mínimo histórico de pouco mais de 31 mil. Paralelamente, a relação entre os casamentos não católicos (civis) e católicos inverte-se – os casamentos não católicos, que em 1960 representavam pouco mais de 9% do total, aproximam-se em 2014 dos dois terços desse mesmo total.


Ao invés, crescem significativamente os divórcios – um fenómeno quase inexistente até meados dos anos 70 e que vai ganhando uma subsequente expressão até alcançar os avassaladores números dos nossos dias: mais de 70 divórcios por cada 100 casamentos realizados.


Por outro lado, é também possível constatar que o ato de casar vai gradualmente deixando de ter a quase exclusiva função formalizadora de uma vida a dois. E é assim que, num país em que a natalidade conhece uma dramática redução, se assiste a um marcado aumento do número de nascimentos fora do casamento – em 2014, já quase metade do total de bebés nascidos. Ao que acresce, ainda, a relevância recente das situações de bebés cujos pais não só não são casados como também não vivem juntos – quase 16% do total no ano transato.



Pois foi quando traçava este quadro de mutações em curso e já abandonava qualquer esperança de alguma subsistência de boas tradições devidamente mantidas que me deparei com a tão extraordinária notícia de capa do “Correio da Manhã” de ontem que abaixo reproduzo. Afinal ainda há gente de respeito, não é caro David Luiz?

Sem comentários:

Enviar um comentário