quarta-feira, 25 de junho de 2014

QUEM AVANÇARÁ PRIMEIRO?



Nas últimas semanas, a política monetária decorrente das decisões dos bancos centrais das economias mais desenvolvidas, particularmente dos EUA e do Reino Unido tem estado sob o foco das atenções de analistas e dos economistas mais representativos da blogosfera económica.
Na gíria especializada costuma recorrer-se ao confronto entre falcões (hawks) e pombas (doves) para descrever o eterno combate entre os promotores de políticas mais restritivas hipervalorizadoras dos riscos inflacionários e de políticas menos restritivas preocupadas com os riscos de quedas de emprego provocadas por políticas restritivas a destempo.
No caso corrente, quer nos EUA, quer no Reino Unido, a política monetária defendida, respetivamente, por Janet Yellen e Mark Carney tem-se mantido mais “pomba” do que “falcão”, sobretudo alimentada pela perceção de que a recuperação económica não é ainda totalmente consistente e pelos sinais provenientes do mercado de trabalho, nos quais cada vez mais a taxa de desemprego é necessariamente completada por outros indicadores.
No entanto, na última semana, uma tomada de posição do governador do Banco de Inglaterra, Mark Carney, acendeu de novo os espíritos “mais falcão do que pomba”. O governador parece com as suas declarações ter invertido as posições que vinha defendendo, proclamando que mais depressa do que o esperado as taxas de juro tenderiam a subir. De facto, a situação macroeconómica do Reino Unido é mais favorável do que a americana, sobretudo se a medirmos pelo chamado “output gap”, a diferença percentual entre o produto corrente da economia e o produto potencial máximo, que é de facto muito mais baixa no Reino Unido. No entanto, o Reino Unido não resolveu ainda o seu mistério ou puzzle da produtividade, com ritmos de crescimento bastante mais baixos do que os americanos, que alguns explicam com o facto da economia britânica estar a optar por soluções tecnológicas mais intensivas em trabalho, penalizando a produtividade.
Parece, assim, desenhar-se uma espécie de corrida potencial entre o Banco de Inglaterra e o FED americano, com a interrogação de saber quem avançará primeiro com as subidas de taxas de juro. É conhecido que existe algum desfasamento temporal entre a subida de taxas de juro de referência e o seu efeito constrangedor das pressões inflacionárias. Este argumento é muitas vezes utilizado pelos falcões para justificar a pressa em tornar a política monetária mais restritiva. Este debate tem várias ramificações que têm evoluído por temas como a busca de melhores indicadores da inflação, a medida mais rigorosa do “output gap” ou a influência de bolhas imobiliárias. Mas há uma realidade que mais do que nunca é necessário não esquecer. Podemos designar esse alerta por não simetria dos efeitos. Expliquemo-nos. Uma política restritiva tardia pode favorecer a emergência de tendências inflacionárias. Mas uma política restritiva demasiado precoce pode matar uma recuperação e gerar níveis de desemprego desproporcionados e evitáveis. Ora, por mais que os falcões o tentem esconder, a perigosidade dos efeitos não é idêntica. É sempre mais fácil a posteriori corrigir tendências inflacionárias do que compensar uma política restritiva demasiado precoce. É provavelmente esta precaução sensata que tem inspirado Janet Yellen ao leme do FED.
Simon Wren-Lewis no Mainly Macro tem uma boa síntese desta questão.

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