Nas últimas semanas, a política monetária
decorrente das decisões dos bancos centrais das economias mais desenvolvidas,
particularmente dos EUA e do Reino Unido tem estado sob o foco das atenções de
analistas e dos economistas mais representativos da blogosfera económica.
Na gíria especializada costuma recorrer-se ao
confronto entre falcões (hawks) e pombas (doves) para descrever o eterno
combate entre os promotores de políticas mais restritivas hipervalorizadoras
dos riscos inflacionários e de políticas menos restritivas preocupadas com os
riscos de quedas de emprego provocadas por políticas restritivas a destempo.
No caso corrente, quer nos EUA, quer no Reino
Unido, a política monetária defendida, respetivamente, por Janet Yellen e Mark Carney
tem-se mantido mais “pomba” do que “falcão”,
sobretudo alimentada pela perceção de que a recuperação económica não é ainda
totalmente consistente e pelos sinais provenientes do mercado de trabalho, nos
quais cada vez mais a taxa de desemprego é necessariamente completada por
outros indicadores.
No entanto, na última semana, uma tomada de posição
do governador do Banco de Inglaterra, Mark Carney, acendeu de novo os espíritos
“mais falcão do que pomba”. O governador parece com as suas declarações ter
invertido as posições que vinha defendendo, proclamando que mais depressa do
que o esperado as taxas de juro tenderiam a subir. De facto, a situação
macroeconómica do Reino Unido é mais favorável do que a americana, sobretudo se
a medirmos pelo chamado “output gap”,
a diferença percentual entre o produto corrente da economia e o produto
potencial máximo, que é de facto muito mais baixa no Reino Unido. No entanto, o
Reino Unido não resolveu ainda o seu mistério ou puzzle da produtividade, com ritmos de crescimento bastante mais
baixos do que os americanos, que alguns explicam com o facto da economia britânica
estar a optar por soluções tecnológicas mais intensivas em trabalho, penalizando
a produtividade.
Parece, assim, desenhar-se uma espécie de corrida
potencial entre o Banco de Inglaterra e o FED americano, com a interrogação de
saber quem avançará primeiro com as subidas de taxas de juro. É conhecido que
existe algum desfasamento temporal entre a subida de taxas de juro de referência
e o seu efeito constrangedor das pressões inflacionárias. Este argumento é
muitas vezes utilizado pelos falcões para justificar a pressa em tornar a política
monetária mais restritiva. Este debate tem várias ramificações que têm evoluído
por temas como a busca de melhores indicadores da inflação, a medida mais
rigorosa do “output gap” ou a influência
de bolhas imobiliárias. Mas há uma realidade que mais do que nunca é necessário
não esquecer. Podemos designar esse alerta por não simetria dos efeitos.
Expliquemo-nos. Uma política restritiva tardia pode favorecer a emergência de
tendências inflacionárias. Mas uma política restritiva demasiado precoce pode
matar uma recuperação e gerar níveis de desemprego desproporcionados e evitáveis.
Ora, por mais que os falcões o tentem esconder, a perigosidade dos efeitos não é
idêntica. É sempre mais fácil a
posteriori corrigir tendências inflacionárias do que compensar uma política
restritiva demasiado precoce. É provavelmente esta precaução sensata que tem
inspirado Janet Yellen ao leme do FED.
Simon Wren-Lewis no Mainly Macro tem uma boa síntese desta questão.
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