Com esta invenção de António José Seguro de
protelar por quatro meses, com férias de permeio, a decisão incontornável de
clarificar os destinos do PS, protelamento que, ou muito me engano, vai colocar
a alternativa numa espécie de “segue dentro de momentos”, tudo pode ser
antecipado nesta matéria. É tempo suficiente para o manobrismo partidário atuar
no que verdadeiramente gosta de fazer, seja para plantar trincheiras
defensivas, seja para cavar pontos de ligação com o cheiro do vencedor
antecipado. Mas é também tempo suficiente para António Costa falar mais para
fora do que para dentro.
Nunca esperei que a apresentação das bases
programáticas no Porto constituísse um momento de rara inovação de ideias e de
convencimento de que está ali uma alternativa de governação. Por isso, as
minhas expectativas eram à partida limitadas. Mas mesmo com um padrão de
expectativas limitadas, soube-me a pouco, soube-me a pouco. Os portugueses estão
fartos de bases programáticas que não adiantam coisa nenhuma ao nosso futuro
governável e cujo grau de não cumprimento é vergonhoso. Estão também fartos de
ideias “wishful thinking”
provenientes de intelectuais esforçados que se reúnem de vez em quando e que
pensam que para tudo há uma medida de política pública, pensando que a governação
é uma máquina que dispara medida e produz efeito. Ora a declaração de ontem no
Porto acrescenta pouco ao que AJS tem vindo a soletrar com o mesmo tom de voz
as medidas mais importantes e cruciais e as que destinam a compor um programa.
Por isso, um acomodado João Proença, que deve ter preparado bem o seu futuro
com AJS se apressou a vir a terreiro a proclamar que a apresentação de Costa
foi um tiro falhado e não se enganou muito.
Nas condições em que esta candidatura aparece os
Portugueses não precisam de apresentações de bases programáticas, precisam sim
de respostas concretas às dúvidas que o bom senso alimenta quanto ao futuro:
- Que posição defende AC em relação à gestão da dívida e ao pacto orçamental?
- Qual é o seu modelo de Europa para o qual se propõe trabalhar com o seu peso político e encontrando alianças, não sei bem onde, mas por exemplo nos resultados de Matteo Renzi em Itália?
- Que dinâmica de aplicação se propõe atribuir aos Fundos Estruturais 2014-2020, sobretudo no contexto em que o governo atual parece não saber encontrar uma resposta às fortes reações adversas que a Comissão Europeia terá apresentado ao Acordo apresentado em 31 de janeiro de 2014 e que podem comprometer opções dos PO já apresentados para discussão em Bruxelas: Poiares Maduro precisa de uma crítica contundente pois até agora os resultados da sua ação coordenadora são de uma pobreza bem franciscana;
- Que princípios básicos tem em mente (simples e reduzidos em número) para propor uma reforma de Estado e nesse âmbito definir a consolidação orçamental?
- Que mercado de trabalho (flexibilidade e segurança) pretende colocar à discussão da Concertação Social e que papel pretende atribuir-lhe?
- Que forças políticas à sua esquerda e que sensibilidades de opinião e personalidades à sua direita pretende estimular para uma governação não exclusivamente baseada nas forças PS?
- Que recursos públicos está disposto a conceder à investigação científica de excelência internacionalmente reconhecida que não apresenta um potencial de rápida disseminação para o tecido empresarial e que por isso pode não ser financiável pelos Fundos Estruturais 2014-2020?
- Que três ou quatro ideias apresenta para a criação de um ambiente de crescimento mais intenso da economia portuguesa?
Como é óbvio, a resposta definitiva a parte
destas questões exigirá a seu tempo decisões sobre as escolhas públicas
orçamentais que devem ser concretizadas para as materializar. Para isso haverá
tempo e ocasiões mais convenientes. Por agora, precisamos de respostas
concretas e menos ideias redondas. Para ideias redondas já temos ATS e pelos
vistos os portugueses não estão satisfeitos com isso. E um conselho simples:
para isso não se rodeie de intelectuais especializados no wishful thinking construído a partir de um centro do mundo que é
Lisboa. Faça jus à sua imagem de homem pragmático habituado a decidir, teimoso
quanto baste naquilo que acredite e por isso rodeie-se de gente que conheça os
meandros da governação e já agora de um bom constitucionalista que estude bem a
jurisprudência constitucional mais recente. Extirpe também de uma vez só os
piu-piu Maçães e companhia que pululam por aí e que também no PS os haverá, por
certo.
Sem comentários:
Enviar um comentário