quinta-feira, 26 de junho de 2014

DESCIDA À TERRA



Tenho de confessar que nunca como hoje vi um jogo da seleção tão distendido, a páginas tantas quase convencido que mais valia ceder um golo ao Gana para afastar os “gringos treinados por um boche” dos oitavos.
A hipervalorização do nosso potencial é tão acirrada e desproporcionada que precisamos regularmente destas catarses para recentrar a perceção do que valemos e construir de novo. O problema é que a hipervalorização é recorrente e surgirá por aí no próximo evento, ou seja, se a qualificação para o Europeu nos correr bem.
Por isso, descida à terra, mas também evidência do princípio de Peter. Quando um selecionador invoca que temos de ser homenzinhos para ultrapassar situações, está tudo dito, sobretudo quando ele próprio contribuiu para a sacralização da tal hipervalorização do “nós” subestimando claramente a seleção alemã. A falta de potência futebolística, sobretudo ofensiva, era demasiado evidente. A periferia do sul da Europa está praticamente toda fora dos oitavos, incluindo a não periférica Itália, valendo-nos a Grécia e o Engenheiro Santos para salvar a honra dos que sofrem com a austeridade.
E se outra evidência não houvesse para mostrar o mundo louco dos artistas da bola, o exemplo do talento de Luís Suarez e a sua propensão para a indisciplina mais inesperada é talvez a melhor imagem dessa loucura.

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