Wolfgang Mϋnchau, na sua crónica habitual dos
domingos no Financial Times on line, usa
a metáfora da conhecida “À espera de Godot” para caracterizar os dilemas do
Banco Central Europeu depois da aqui comentada decisão da passada quinta feira.
De facto, os mecanismos de orientação futura (forward guidance) que o BCE fixou
já algum tempo com o objetivo de pugnar por uma inflação ligeiramente abaixo
dos 2%, representaram já então uma tentativa desesperada de ajustar o mandato
estatutário que inspira a sua atividade a uma não prevista situação de “zero lower bound”
por parte da ortodoxia monetária que capturou o nascimento da instituição.
Ora, a contradição entre a forward
guidance e os propósitos de combater a ameaça deflacionária
parecem cada vez mais de difícil compatibilização, sentindo-se no ar a impotência
da espera e daí a metáfora de Mϋnchau.
A decisão de quinta-feira é, como foi aqui sublinhado,
o produto de um compromisso no seio dos mecanismos de decisão do BCE. Não é por
acaso que o mecanismo de apoio ao financiamento dos bancos para incrementar o
seu potencial de concessão de crédito não incluiu o financiamento de empréstimos
à habitação (que Mϋnchau refere a propósito ter sido a única componente de idêntica
e inspiradora medida tomada pelo Banco de Inglaterra que funcionou) e deixou
também de fora a compra de dívida pública. Tal decisão teria envolvido seguramente
uma mais complexa negociação, com os bancos centrais da europa do sul a serem
contrariados pelos seus congéneres do Norte. Onde é que todos já vimos este
filme? Por maioria de razão, não foi também por acaso que o “quantitative easing” foi deixado para última
bala, caso os riscos deflacionários persistam elevados. Como é conhecido, a
possibilidade de consenso nessa matéria e ainda mais problemática e isto mostra
bem que Draghi vai ter de suar as estopinhas para se atravessar com essa medida
medida e assim cumprir o compromisso de fazer tudo o que for necessário para
contrariar a situação, não propriamente neste caso combater a possível destruição
do euro, mas suster a ameaça deflacionária. Não sem surpresa, discute-se hoje com
intensidade na blogosfera económica e nas conferências onde a política monetária
é discutida a possibilidade de aumento das taxas de inflação de referência. Krugman fê-lo em Sintra olhos nos olhos com a inteligência do BCE e com os “Apparatchiks”
da Comissão Europeia, propondo ao BCE a subida da taxa de referência para 4% de
inflação-meta, de modo a proporcionar margem para reequilíbrios de
competitividade entre os países sob ajustamento e os países do Norte. Outros
discutem os termos como essas decisões podem ser monitorizadas com transparência.
É o caso de Simon-Wren Lewis no Mainly Macro.
De facto, esperar por Godot pode ser suicidário
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