João Miguel Tavares (JMT) tem ganho com as suas crónicas no Público nos últimos tempos uma acutilância notável, que tenho de
reconhecer apesar de não ser um adepto incondicional do seu estilo. Aquela de
comparar António Costa e António José Seguro respetivamente a Karim Benzema e a
Hugo Almeida é de alta escola intuitiva, chapéu para ele por isso. E, pelos
meus cálculos, a acutilância de JMT é proporcional à autofagia que se vai
vivendo no PS, sobretudo do lado dos adeptos fervorosos do estilo e da pose de
António José Seguro (AJS), quando se têm sucedido ajustes de contas com a
governação de Sócrates. O manifesto agora assinado por Henrique Neto e
companhia, diabolizando toda a governação de Sócrates, acolitado pelo bonacheirão
João Proença, cada vez mais talhado para sacristão de igreja de frequência
reduzida, é a verdadeira ilustração do que a autofagia partidária pode
representar quando se dividem campos e universos de influência.
A rábula de AJS de que era um passarinho
amordaçado numa gaiola para não perturbar os equilíbrios internos do PS e, por
isso, não criticou a governação de Sócrates e que agora se sente livre na prática
para ajustar contas com o passado é a melhor demonstração da sua fragilidade. A
composição do grupo parlamentar do PS, configurada pelo próprio AJS, constitui
a melhor ilustração de quão frágil era o passarinho.
Perturba-me ver um empresário (ainda será?) como
Henrique Neto não resistir à diabolização da governação Sócrates nos termos que
constam do referido manifesto, quanto é bem fácil para uma mente minimamente esclarecida
fazer a crítica dessa governação, separando bem o trigo do joio, quando este último
existe e não é difícil identificar.
Tudo isto vem ao encontro do que penso. Embora
esteja de acordo com a comparação de JMT entre Benzema e Hugo Almeida, a teia
urdida pelos “seguristas” (estas coisas da aprendizagem de aparelho vem sempre
ao de cima), combinada com a emergência de francos atiradores bem representados
no referido manifesto e dispostos a tudo, vai tornar a ascensão de Costa bem
mais difícil e complexa do que os seus apoiantes admitem. Pode não chegar para conceder
a vitória ao establishment, mas seguramente que debilitará o impulso para as
legislativas e Marco António e seus apaniguados agradecerão essa benesse.
P.S. A ideia de que Seguro não teria assinado o
memorando da Troika é de rir a bandeiras despregadas, sobretudo quando se tem
em conta o tom errático que AJS foi seguindo em relação ao governo da maioria. Vale
a pena recordar a crítica contundente que Pacheco Pereira dirigiu a AJS quando
ele protagonizou a rábula do acordo do IRC.
Sem comentários:
Enviar um comentário