Andei alguns dias à procura da declaração
conjunta da Cimeira Ibérica realizada em Vidago, sobretudo para ler preto no
branco os compromissos nela assumidos, particularmente em relação à modernização
da ligação ferroviária Porto-Vigo. Mais uma vez constatei a debilidade do
jornalismo português, pois nenhum dos inúmeros jornais que dissertou sobre as
conclusões se deu ao esforço de disponibilizar a declaração conjunta aos seus
leitores. E nem mesmo o portal do governo que disserta sobre a prestação do
primeiro-Ministro nessa cimeira se deu ao luxo de a disponibilizar. Encontrei a referida declaração conjunta no Portal da Moncloa (Governo de Espanha), o que pelo menos denota um maior respeito pelos cidadãos.
Não entendi bem o inusitado entusiasmo nem do
Eixo Atlântico, nem dos Presidentes das Câmaras de Viana do Castelo e de Braga,
esfusiantes com a decisão de abandonar a ideia da ligação Porto-Vigo sem
paragens intermédias, consagrando paragens obrigatórias em Nine, Viana do
Castelo e Valença. Fiquei também curioso com a decisão do Presidente da Câmara
de Barcelos, furioso com o facto de Barcelos ter sido arredado de uma passagem
intermédia. Já aqui referi repetidas vezes que o projeto da ligação Porto-Vigo
só tem sentido com os seguintes pressupostos:
- Utilização de composições modernas e não de fim de linha como presentemente acontece;
- Eletrificação e sinalização eletrónica do troço Nine-Valença e correspondentes intervenções no troço Tuy-Vigo;
- Pequenas intervenções na infraestrutura, mesmo de via única, corrigindo pontos críticos, de modo a permitir com os pressupostos anteriores a utilização de um comboio tipo Alfa Pendular articulando Vigo com o Porto-Lisboa e este com o futuro TGV Vigo-Madrid;
- Articulação da ligação com o tráfego Porto-Famalicão-Barcelos-Viana, já que é sobretudo entre Barcelos e Viana que a matriz de fluxos é bem mais intensa.
Vejamos o que é dito sobre esta matéria na
declaração conjunta: “En relación con
el enlace ferroviario Oporto-Vigo, España y Portugal se congratularon de la
aprobación de un nuevo modelo de explotación conjunta, que ha generado un
incremento sustancial de la demanda, y del inicio del nuevo servicio previsto
para el 1 de julio de 2014, con inclusión de tres nuevas paradas comerciales en
Viana do Castelo, Nine y Valença, sin cambio de maquinistas en la frontera.”
É absolutamente espantoso, direi mesmo de rir à gargalhada, que uma declaração conjunta
refira o “aumento substancial da procura” (26 passageiros por dia na versão
atamancada que existe até 1 de julho). E depois os pressupostos fundamentais
atrás referidos, os únicos que fazem sentido para um mínimo de seriedade nestes
tempos de escolhas públicas rigorosas, estão absolutamente fora do compromisso
da cimeira de Vidago.
Caros amigos do Eixo Atlântico e caros
Presidentes de Viana do Castelo e de Braga, sejamos rigorosos. A declaração de
Vidago não acrescenta rigorosamente nada à da última cimeira em Espanha e o
compromisso fundamental não foi assumido. Não compreendo bem os vossos
sorrisos, deveriam ser amarelos. Bem sei que outras forças tentaram que
persistisse o modelo anterior sem paragens e com o encerramento anunciado. Daí talvez
o vosso entusiasmo, desproporcionado, direi eu, pois o fundamental da sinalização,
eletrificação e pequenas correções de infraestrutura não deram origem a
compromisso.
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