terça-feira, 10 de junho de 2014

CIMEIRA IBÉRICA DE VIDAGO



Andei alguns dias à procura da declaração conjunta da Cimeira Ibérica realizada em Vidago, sobretudo para ler preto no branco os compromissos nela assumidos, particularmente em relação à modernização da ligação ferroviária Porto-Vigo. Mais uma vez constatei a debilidade do jornalismo português, pois nenhum dos inúmeros jornais que dissertou sobre as conclusões se deu ao esforço de disponibilizar a declaração conjunta aos seus leitores. E nem mesmo o portal do governo que disserta sobre a prestação do primeiro-Ministro nessa cimeira se deu ao luxo de a disponibilizar. Encontrei a referida declaração conjunta no Portal da Moncloa (Governo de Espanha), o que pelo menos denota um maior respeito pelos cidadãos.
Não entendi bem o inusitado entusiasmo nem do Eixo Atlântico, nem dos Presidentes das Câmaras de Viana do Castelo e de Braga, esfusiantes com a decisão de abandonar a ideia da ligação Porto-Vigo sem paragens intermédias, consagrando paragens obrigatórias em Nine, Viana do Castelo e Valença. Fiquei também curioso com a decisão do Presidente da Câmara de Barcelos, furioso com o facto de Barcelos ter sido arredado de uma passagem intermédia. Já aqui referi repetidas vezes que o projeto da ligação Porto-Vigo só tem sentido com os seguintes pressupostos:

  • Utilização de composições modernas e não de fim de linha como presentemente acontece;

  • Eletrificação e sinalização eletrónica do troço Nine-Valença e correspondentes intervenções no troço Tuy-Vigo;

  • Pequenas intervenções na infraestrutura, mesmo de via única, corrigindo pontos críticos, de modo a permitir com os pressupostos anteriores a utilização de um comboio tipo Alfa Pendular articulando Vigo com o Porto-Lisboa e este com o futuro TGV Vigo-Madrid;

  • Articulação da ligação com o tráfego Porto-Famalicão-Barcelos-Viana, já que é sobretudo entre Barcelos e Viana que a matriz de fluxos é bem mais intensa.

Vejamos o que é dito sobre esta matéria na declaração conjunta: “En relación con el enlace ferroviario Oporto-Vigo, España y Portugal se congratularon de la aprobación de un nuevo modelo de explotación conjunta, que ha generado un incremento sustancial de la demanda, y del inicio del nuevo servicio previsto para el 1 de julio de 2014, con inclusión de tres nuevas paradas comerciales en Viana do Castelo, Nine y Valença, sin cambio de maquinistas en la frontera.” É absolutamente espantoso, direi mesmo de rir à gargalhada, que uma declaração conjunta refira o “aumento substancial da procura” (26 passageiros por dia na versão atamancada que existe até 1 de julho). E depois os pressupostos fundamentais atrás referidos, os únicos que fazem sentido para um mínimo de seriedade nestes tempos de escolhas públicas rigorosas, estão absolutamente fora do compromisso da cimeira de Vidago.

Caros amigos do Eixo Atlântico e caros Presidentes de Viana do Castelo e de Braga, sejamos rigorosos. A declaração de Vidago não acrescenta rigorosamente nada à da última cimeira em Espanha e o compromisso fundamental não foi assumido. Não compreendo bem os vossos sorrisos, deveriam ser amarelos. Bem sei que outras forças tentaram que persistisse o modelo anterior sem paragens e com o encerramento anunciado. Daí talvez o vosso entusiasmo, desproporcionado, direi eu, pois o fundamental da sinalização, eletrificação e pequenas correções de infraestrutura não deram origem a compromisso.

Sem comentários:

Enviar um comentário