terça-feira, 17 de junho de 2014

PESADELO E TRAGÉDIA NO IRAQUE


(adaptado de http://lemonde.fr)

O “Le Monde” já lhe deu um nome, chamou-lhe “Jihadistão”. Trata-se, segundo tudo vai indicando, de um novo país que está a ser talhado em pleno mundo árabe (a cavalo sobre a Síria e o Iraque e aproveitando o enfraquecimento e o caos reinante em ambos os países) por sucessivos e brutais atentados e morticínios, tudo na sequência de mais uma consequência das intermináveis desgraças iniciadas em 2003 com a invasão do Iraque pelos Estados Unidos da América (quem não se lembra das antológicas fotos de família nos Açores, juntando Bush, Blair, Aznar e o nosso Durão que servia de feliz anfitrião?).


O dito território está sob controlo do ISIS (Estado Islâmico do Iraque e do Levante), liderado por Abu Bakr Al-Baghdadi (que a “Time” já apelidou de “novo Bin-Laden”), e é o maior que alguma vez esteve sob uma influência suscetível de ser considerada próxima da Al-Qaeda (incluindo o Afeganistão do regime talibã). Sendo que, enquanto a violência e o extremismo dos princípios islamitas sunitas permanecem intocáveis, a expressão desta nova base jihadista e dos seus estragos potenciais se afiguram incomensuravelmente mais graves em termos económicos, geopolíticos e estratégicos; com fortes ameaças de rebentamentos explosivos a incidirem de forma imediata e direta sobre a vizinha Europa.

Já não é só (como se isso fosse pouco!) a total ausência de sentido que se vai observando naquela sub-região, entre um regime pró-xiita de Nouri Al-Maliki altamente sectário em Bagdade – a ilustração cabal de um “Estado falhado”! – e uma Síria mergulhada numa sangrenta guerra civil criminosamente animada por Bashar Al-Assad. Também já não é só (idem!) a completa desestruturação em curso no mapa regional, nem tampouco a enormidade da escalada de atrocidades que se vão produzindo. É, principalmente, um novo e mais pujante enraizamento territorial de uma organização terrorista que passa a controlar uma parte importante das províncias petrolíferas sírias e iraquianas (a recentíssima conquista da segunda mais populosa cidade do Iraque, Mosul, é disso sintomática) e a assim possuir condições acrescidas para o desenvolvimento de imprevisíveis atividades terroristas e para lograr ainda aumentar a sua capacidade de sedução sobre novas gerações a braços com limitadas perspetivas de vida. Está a ficar cada vez mais cara a brincadeira que foi a interesseira e interessada loucura de uns e a ilusória ambição pessoal de outros...

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