sábado, 21 de junho de 2014

OS FILHOS DA CRISE


Muito curiosos os estudos do “Luxembourg Income Study”, um centro vocacionado para a análise das desigualdades à escala mundial, de que o “Le Monde” deu conta do mais recentemente publicado (“Generational Inequalities and Welfare Regimes”, march 2014) através de um artigo assinado pelos respetivos autores (Louis Chauveland e Martin Schröder).

Os gráficos acima reproduzidos elucidam bem as diferenças dos níveis de vida das famílias (medido com base no rendimento líquido após impostos e transferências sociais e na dimensão do agregado) de diferentes gerações – são consideradas amostras de dados relativos a pessoas nascidas em cada década compreendida entre 1925 e 1975 – entre si e entre diferentes países. 

Como se pode facilmente verificar, a França revela a situação mais gravosa, designadamente ao ostentar a diferença largamente mais chocante entre gerações e sobretudo um muito maior sacrifício imposto à sua juventude. Constatem-se, com efeito, os 11% de afastamento negativo registados para os nascidos na década de 70 em relação à média de todas as gerações consideradas (e, especialmente, aos baby-boomers dos anos 50). Uma situação de que apenas se aproxima, em menor grau, a configuração da curva espanhola. Segundo cálculos dos autores, se a geração mais jovem tivesse podido aceder às manifestações de excecional crescimento de que beneficiaram os seus pais (e, em parte, os seus avós) o nível de vida que lhes corresponderia hoje deveria encontrar-se 30% e 24% acima do atual em França e Espanha, respetivamente.

Ao invés, os países anglo-saxónicos (e também os nórdicos) não conhecem um tal tipo de desigualdade: cada geração surge como beneficiando de um ritmo de progressão semelhante à precedente e a juventude não aparece como a camada etária mais afetada pela crise. O caso italiano apresenta-se como específico, já que a persistência de uma significativa desigualdade dá lugar a um prejuízo que incide mais marcadamente sobre os cidadãos idosos.

Não conheço qualquer informação comparável com aplicação a Portugal, mas não me custa nada admitir que cairíamos com grande probabilidade num qualquer tipo de regime mediterrânico em que as jovens gerações são o maior dos piões das nicas. Como também se vê com as respetivas taxas de desemprego e as fugas maciças de cérebros em curso...

Sem comentários:

Enviar um comentário