terça-feira, 3 de junho de 2014

APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO



A conferência de ontem de Stiglitz em Toulouse, na Escola de Economia, precedendo a atribuição do prémio Jean-Jacques Laffont ao economista americano, consistiu basicamente na apresentação das ideias-chave do seu novo livro (como produzem estas cabeças!) de autoria conjunta com Bruce Greenwald, seu velho companheiro da economia da informação imperfeita, Creating a Learning Society – a New Approach to Growth, Development and Social Progress.
O tema da aprendizagem no desenvolvimento constitui uma evolução anunciada em quem tem aplicado com tanta mestria a economia da informação imperfeita às falhas de mercado do desenvolvimento, trabalhando com inúmeras situações concretas por esse mundo fora e sempre na linha rigorosa de separação entre o retorno privado e o retorno social dos projetos e das soluções engendradas mais ou menos criativamente pela economia e pelos economistas.
É curioso notar como economistas macro como Stiglitz descobrem mais tarde a relevância dos processos de aprendizagem coletiva e organizacional como elementos-chave do desenvolvimento do que, por exemplo, a economia do território e a geografia económica o fizeram com conceitos por exemplo como o de Learning Regions (Regiões Aprendentes). Esta mudança é boa música para os meus ouvidos, pois permitem-me estabelecer pontes entre dois domínios que sempre me disputaram, nem sempre com uma saída equilibrada para esse desafio – a macroeconomia do desenvolvimento e a economia dos territórios.
Mas a perspetiva de Stiglitz produzirá seguramente muito maior impacto do que os progressos alcançados nas disciplinas do território e até da inovação, pois a sua visibilidade e mediatismo não tem comparação com os expoentes daquelas disciplinas. E, mais do que isso, trata-se de uma conceção crucial para orientar hoje a assistência técnica internacional. Para desgraça futura das populações desses países, a assistência técnica da expertise internacional, incluindo aqui ONG e instituições internacionais, produz soluções, propõe modelos e fornece muitas tecnologia, equipamento e assessoria sem qualquer lógica de combinação e aposta com os processos de aprendizagem técnica, tecnológica, organizacional e até humana que essas sociedades deveriam estar a conceber e a organizar para efeitos mais prolongados dessa assistência técnica comprada com o seu dinheiro e, regra geral, com os e seus recursos naturais.
Colegas meus da Quaternaire nestes tempos em Timor para uma assistência técnica na área do ordenamento do território têm-me feito chegar observações e notas de viagem que colocam esta questão no coração do desenvolvimento.
Pode ser que a visibilidade e prestígio de Stiglitz consiga chegar mais longe do que o esforço de gente mais desconhecida.
Mas há aqui uma ironia da história pessoal: quando finalmente se abrem oportunidades de trabalho para trabalhar as questões do desenvolvimento/subdesenvolvimento em termos de evidência e experiência local, já estou velho para grandes incursões de longa distância. É a vida.
P.S. Diane Coyle no Enlightened Economist que se recomenda, pois a economista-jornalista tem trabalhado muito sobre a revisão dos curricula de ensino da economia, tem uma boa leitura da conferência de ontem de Stiglitz.

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