A conferência de ontem de Stiglitz em Toulouse, na Escola de Economia, precedendo a atribuição do prémio Jean-Jacques Laffont ao
economista americano, consistiu basicamente na apresentação das ideias-chave do
seu novo livro (como produzem estas cabeças!) de autoria conjunta com Bruce
Greenwald, seu velho companheiro da economia da informação imperfeita, Creating a Learning Society – a New Approach to Growth, Development and Social Progress.
O tema da aprendizagem no desenvolvimento
constitui uma evolução anunciada em quem tem aplicado com tanta mestria a
economia da informação imperfeita às falhas de mercado do desenvolvimento,
trabalhando com inúmeras situações concretas por esse mundo fora e sempre na
linha rigorosa de separação entre o retorno privado e o retorno social dos
projetos e das soluções engendradas mais ou menos criativamente pela economia e
pelos economistas.
É curioso notar como economistas macro como
Stiglitz descobrem mais tarde a relevância dos processos de aprendizagem
coletiva e organizacional como elementos-chave do desenvolvimento do que, por
exemplo, a economia do território e a geografia económica o fizeram com
conceitos por exemplo como o de Learning
Regions (Regiões Aprendentes). Esta mudança é boa música para os meus
ouvidos, pois permitem-me estabelecer pontes entre dois domínios que sempre me
disputaram, nem sempre com uma saída equilibrada para esse desafio – a macroeconomia
do desenvolvimento e a economia dos territórios.
Mas a perspetiva de Stiglitz produzirá
seguramente muito maior impacto do que os progressos alcançados nas disciplinas
do território e até da inovação, pois a sua visibilidade e mediatismo não tem
comparação com os expoentes daquelas disciplinas. E, mais do que isso, trata-se
de uma conceção crucial para orientar hoje a assistência técnica internacional.
Para desgraça futura das populações desses países, a assistência técnica da
expertise internacional, incluindo aqui ONG e instituições internacionais,
produz soluções, propõe modelos e fornece muitas tecnologia, equipamento e
assessoria sem qualquer lógica de combinação e aposta com os processos de
aprendizagem técnica, tecnológica, organizacional e até humana que essas
sociedades deveriam estar a conceber e a organizar para efeitos mais
prolongados dessa assistência técnica comprada com o seu dinheiro e, regra
geral, com os e seus recursos naturais.
Colegas meus da Quaternaire nestes tempos em
Timor para uma assistência técnica na área do ordenamento do território têm-me
feito chegar observações e notas de viagem que colocam esta questão no coração
do desenvolvimento.
Pode ser que a visibilidade e prestígio de Stiglitz
consiga chegar mais longe do que o esforço de gente mais desconhecida.
Mas há aqui uma ironia da história pessoal: quando
finalmente se abrem oportunidades de trabalho para trabalhar as questões do
desenvolvimento/subdesenvolvimento em termos de evidência e experiência local,
já estou velho para grandes incursões de longa distância. É a vida.
P.S. Diane Coyle no Enlightened Economist que se recomenda, pois a economista-jornalista
tem trabalhado muito sobre a revisão dos curricula de ensino da economia, tem
uma boa leitura da conferência de ontem de Stiglitz.
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