sexta-feira, 6 de junho de 2014

LEITE VOLTOU


Após um interregno eleitoral, em que até se deixou fotografar enquanto votante da histórica dupla Rangel-Melo, o comentário de Manuela Ferreira Leite recuperou a normalidade dos seus melhores últimos tempos. Aqui ficam, sem necessidade de qualquer acrescento, meia dúzia das suas cristalinas declarações:

· “O facto de o Governo não ter tomado o cuidado – não sei se o fez por falta de atenção ou se o fez intencionalmente, intencionalmente era intencionalmente embrulhar tudo no mesmo pacote a ver se passava, correndo o risco que evidentemente correu – (...) e por isso o Tribunal Constitucional quando agora recusa isto não é recusar os cortes nos vencimentos porque esses já estavam consagrados. É que eles meteram tudo no mesmo saco e, nesse saco em que agora meteram, meteram um pouco que tinha incomodado toda a gente, nomeadamente os deputados da maioria. E, portanto, é a isto que eles estão a dizer que não. Eu não acho justo que se diga que o Governo quer cortar despesa e que afinal o Tribunal Constitucional não deixa.

· “Se se cria um problema tão grave ao País que já nem o primeiro-ministro pode ir ao futebol, se isso é um problema tão grave, então vamos imaginar que o Tribunal Constitucional tinha considerado isto constitucional. (...) Qual é que é o nosso futuro? O que é que nos espera no futuro? Qual é que é o limite? Eu agora faria a pergunta ao Governo: digam-me lá se faz favor qual é que é o limite que vocês estabelecem como impensável ultrapassar para mais cortes nos vencimentos dos funcionários públicos? (...) Se fossem feitos estes cortes, o défice orçamental não estava resolvido, estamos nos 4%. Além do défice orçamental dos 4%, nós vamos ter que resolver o problema do Tratado Orçamental que nos obriga a ter défices negativos ou nulos, nós temos o problema da dívida... Se isto só se resolve na base do corte da despesa dos funcionários públicos e das pensões, se só tem esta solução, então qual é que é o futuro, quer dizer, onde é que isto vai parar?

· “Neste momento, em vez de o primeiro-ministro não ir ao futebol, eu acho que aquilo que ele tinha que fazer era dizer à ministra das Finanças que utilizasse as reservas que lá tem exatamente para tapar estas situações que eram imprevisíveis. (...) E há um ponto que eu não consigo conformar-me que é não saber qual é que é o destino daquele dinheiro.

· “Por outro lado, há uma ameaça – que parece que é uma ameaça – dizendo que, por causa disto, que eu acho que ainda não aconteceu absolutamente nada, veja lá que os mercados, que podiam ter reagido de alguma forma, têm crescido, portanto estão absolutamente indiferentes e sabem porque é que estão indiferentes: é que isto não tem o mínimo dos significados para a consolidação das nossas contas públicas nem para a nossa orientação.”

· “Eu diria que era bom que ficasse congelado e até que ficasse do lado de lá e não viesse para cá porque nós não precisamos daquele dinheiro. Nós já saímos do Programa de Ajustamento e saímos de uma forma limpa. Ao sairmos de uma forma limpa significa que eu tenho todas as possibilidades de ir pelos meus pés ao mercado buscar dinheiro, se precisar dele – posso ir pelos meus pés, com uma vantagem: é que tenho um juro mais baixo do que aquele a que me empresta o Fundo Monetário Internacional. Portanto, eu só tenho vantagens em não querer aquele dinheiro para nada.

· “Quer dizer, há uma dramatização absolutamente lastimável. (...) Eu não vejo outro objetivo a não ser não termos forma de concretizar nenhumas das promessas que andam a ser feitas e que, de há uns anos até hoje, era por causa da Troika; já não temos a Troika e agora passa a ser o Tribunal Constitucional. Porque não se esqueça que todo este drama, toda esta necessidade de reduzir despesa, todo este drama que aconteceu (...) está inserido num contexto em que o Governo falava em baixar impostos. Então há margem para baixar impostos e não há margem para se ir buscar despesa a mais lado nenhum, nem à dotação provisional nem a lado nenhum, não há mais nenhum sítio onde poupar senão neste bocadinho? Por causa disto nós não conseguimos governar?

Entretanto, a estratégia do Governo vai sendo também aclarada. Como indiciariamente decorre das manchetes de hoje do “Público” e do “Sol”, e sempre contando com a inestimável e leal colaboração do companheiro Aníbal, começam por se antecipar os cortes na expectativa de assim se vir a forçar uma “inevitável” antecipação das eleições. Simplesmente brilhante!

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