Agora que o curto descanso já se finou, ainda são
os ecos da Copa no Brasil a estimular a imaginação. E nestes últimos dias,
incluindo o de hoje, há motivos de sobra para justificar uma pequena crónica.
Nos meus velhos tempos de docência da economia do
desenvolvimento, a Costa Rica fazia sempre parte como estudo de caso obrigatório
da visão comparada dos modelos de desenvolvimento latino-americano. Tratava-se,
então, de uma pequena economia aberta, com regime democrático relativamente
consolidado, que tinha conseguido escapar à maldição de exportador de recursos
naturais e que apresentava uma distribuição de rendimento com níveis de
desigualdade incomparavelmente mais baixos do que os seus congéneres
latino-americanos como o Brasil e o México, por exemplo. Era um caso que me
permitia mostrar o não determinismo do desenvolvimento e que evidenciava também
o menor peso da dependência de fatores de inércia histórica, tão presentes nas
economias latino-americanas.
Vejo com prazer que a seleção da Costa Rica na
Copa 2014 reflete bem essa maior harmonia, com um modelo de jogo de precioso
equilíbrio, que desemboca por fim no talento concretizador de Bryan Ruiz,
Campbell e Bolaños. Nem sempre o futebol e a seleção refletem as características
profundas do modelo de desenvolvimento económico e social, mas neste caso
reconheço na maneira de jogar dos costa-riquenhos as minhas considerações de há
tantos anos sobre o seu modelo económico como caso de estudo.
Depois, o regresso da França é sempre de saudar,
com um Didier Deschamps a fazer renascer um modelo de futebol de raríssima inteligência
tática, com duas forças da natureza africana, Matuidi e Pogba, como motores e
um Benzema soberbo, liberto dos espartilhos táticos do Real Madrid. Um raro
exemplo de como é possível renascer das cinzas e da mais completa desagregação
de uma equipa.
E hoje, com um Irão rigoroso a merecer melhor
sorte do que a derrota infligida pelo pulga Messi …ânico, foi preciso emergir a
magia africana para por em sentido a seleção alemã, petulante e distante na
primeira parte, obrigada a fazer pela vida na segunda. O Gana é a ilustração
mais fina que conheço da África que desperta, como a seleção dos Camarões o é
da África em desagregação. Tanto talento, habilidade e magia puras, desprovidos
dos níveis de organização adequados. Mais uns minutos o Gana perderia, também
por questões físicas, mas sobretudo por falta de sentido organizativo na proteção
da sua defesa. E a terceira jornada do grupo de Portugal até pode ser de
arromba, claro se não claudicarmos ao pé da selva amazónica.
E ainda há quem não goste da festa!
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