sábado, 21 de junho de 2014

COSTA RICA, LES BLEUS E MAGIA AFRICANA



Agora que o curto descanso já se finou, ainda são os ecos da Copa no Brasil a estimular a imaginação. E nestes últimos dias, incluindo o de hoje, há motivos de sobra para justificar uma pequena crónica.
Nos meus velhos tempos de docência da economia do desenvolvimento, a Costa Rica fazia sempre parte como estudo de caso obrigatório da visão comparada dos modelos de desenvolvimento latino-americano. Tratava-se, então, de uma pequena economia aberta, com regime democrático relativamente consolidado, que tinha conseguido escapar à maldição de exportador de recursos naturais e que apresentava uma distribuição de rendimento com níveis de desigualdade incomparavelmente mais baixos do que os seus congéneres latino-americanos como o Brasil e o México, por exemplo. Era um caso que me permitia mostrar o não determinismo do desenvolvimento e que evidenciava também o menor peso da dependência de fatores de inércia histórica, tão presentes nas economias latino-americanas.
Vejo com prazer que a seleção da Costa Rica na Copa 2014 reflete bem essa maior harmonia, com um modelo de jogo de precioso equilíbrio, que desemboca por fim no talento concretizador de Bryan Ruiz, Campbell e Bolaños. Nem sempre o futebol e a seleção refletem as características profundas do modelo de desenvolvimento económico e social, mas neste caso reconheço na maneira de jogar dos costa-riquenhos as minhas considerações de há tantos anos sobre o seu modelo económico como caso de estudo.

Depois, o regresso da França é sempre de saudar, com um Didier Deschamps a fazer renascer um modelo de futebol de raríssima inteligência tática, com duas forças da natureza africana, Matuidi e Pogba, como motores e um Benzema soberbo, liberto dos espartilhos táticos do Real Madrid. Um raro exemplo de como é possível renascer das cinzas e da mais completa desagregação de uma equipa.

E hoje, com um Irão rigoroso a merecer melhor sorte do que a derrota infligida pelo pulga Messi …ânico, foi preciso emergir a magia africana para por em sentido a seleção alemã, petulante e distante na primeira parte, obrigada a fazer pela vida na segunda. O Gana é a ilustração mais fina que conheço da África que desperta, como a seleção dos Camarões o é da África em desagregação. Tanto talento, habilidade e magia puras, desprovidos dos níveis de organização adequados. Mais uns minutos o Gana perderia, também por questões físicas, mas sobretudo por falta de sentido organizativo na proteção da sua defesa. E a terceira jornada do grupo de Portugal até pode ser de arromba, claro se não claudicarmos ao pé da selva amazónica.
E ainda há quem não goste da festa!

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