quarta-feira, 25 de junho de 2014

O PENSADOR E O PENSAMENTO


O “Libération” do fim de semana passado dava conta da última entrevista de Michel Foucault, datada de poucos dias antes da hospitalização de que decorreria a sua morte em 25 de junho de 1984 (trinta anos já!). Uma leitura fascinante e definitivamente insuscetível de seleções.

Mas há pouco tempo atrás também foi divulgada – está no “You Tube” – uma entrevista esquecida e reencontrada do filósofo francês, datada de 1971 e concedida na sua residência parisiense da rua de Vaugirard no quadro da preparação de um debate que iria ter com Noam Chomsky.

Dela retenho um excerto sobre o seu entendimento da relação entre o pensador e o pensamento – “Eu não digo as coisas porque as penso. Eu digo as coisas para não mais as pensar.” – e o respetivo desenvolvimento explicativo: “Não acredito, se quiser, nas virtudes da expressão. A linguagem que me interessa é a que é tal que pode justamente destruir todas as formas circulares, fechadas, narcísicas do sujeito e de si próprio... E o que eu entendo por esse ‘desaparecimento do homem’ é no fundo o desaparecimento de todas essas formas da individualidade, da subjetividade, da consciência, do eu a partir das quais tentamos construir e fundar o saber. É uma das formas desta limitação, destas exclusões, destas rejeições de que eu falava. O Ocidente tentou construir a figura do homem assim, e essa figura está em vias de desaparecer. E eu, portanto, não digo as coisas porque as penso, digo-as sobretudo numa perspetiva de autodestruição, para não mais as pensar, para estar bem seguro de que doravante, fora de mim, elas vão certamente viver uma vida e morrer uma morte em que eu não tenha de me reconhecer.” Lapidar!

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