A geração como a minha que nasceu em 1949 tem da Segunda
Guerra Mundial uma visão essencialmente determinada pelos relatos que foi
ouvindo da família, não só das dificuldades quotidianas sentidas em Portugal,
mas de testemunhos diversos sobre o modo como a Guerra era transmitida pela
imprensa da época e sobretudo pela rádio, então uma companhia indissociável de
quem queria ouvir algo mais do que era filtrado pelo regime. Recordo-me que em
algumas conversas de família o nome do saudoso Fernando Pessa era sempre
recordado e simultaneamente as suas reportagens como correspondente aquando da
sua passagem pela BBC.
Depois, à medida que a minha atração por livros,
jornais e revistas se foi intensificando, lá fui construindo a minha própria
imagem sobre o horror observado, sempre em confronto com a barbárie da Primeira
Guerra Mundial.
Mas de todas as imagens construídas a que definitivamente
me marcou foi o Desembarque na Normandia ontem celebrado, com Hollande a encontrar na diplomacia internacional um lenitivo para as agruras e deceções da
sua governação. E esse desembarque de 6 de junho de 1944 fica como imagem
irremediavelmente associado ao Dia Mais Longo (The Longest
Day de 1962, Darryl Zanuck), o que ilustra como a construção
ficcional pode ser para nós a imagem da história. Lembro-me que em viagem de férias
à Bretanha e à Normandia, algures no tempo, a visita ao local me projetou
irremediavelmente para o filme de Zanuck. Curiosamente, nem o Saving Private Ryan (1998) de Spielberg,
nem o Brand of Brothers
(Spielberg/Hanks) (2001) conseguiram o mesmo efeito.
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